Há quem se queixe que é difícil entender a linguagem dos economistas, talvez porque muitos deles foram criando expressões e frases difíceis, como uma espécie de reserva de mercado. Se falam patavina, diferem dos demais profissionais e vendem uma imagem respeitosa. Se não são sábios, como o sábio chinês que assim era considerado porque nada dizia, o são porque o que dizem é incompreensível pela maioria dos mortais.

Mas façamos-lhes justiça. Em economia, há fenômenos que, mesmo bem explicados, são de difícil compreensão. Agora ocorre um deles no Brasil.

A indústria do Estado de São Paulo, o mais industrializado do País, encerrou o mês de setembro com o maior ritmo de atividade em um ano. Seria de se esperar que o número de pessoas empregadas crescesse, mas, ao contrário, diminuiu. Ou melhor, ficou em apenas menos 0,2%, o que tecnicamente é considerado estabilidade.

Mas de que vale estabilidade dessa ordem quando há recorde de desemprego e o único lenitivo para esta aflitiva situação é o seguro-desemprego, que existe, é limitado no valor e no tempo e o dinheiro para pagá-lo acabou? Acabou exatamente porque o desemprego aumentou.

De outro lado, de que vale o aumento da produção industrial se não oferece aumento de empregos? O desemprego é que desespera a população. A maior produção, pelo menos para quem está sem trabalho e sem ganhos, só tem sentido se lhe der o pão nosso de cada dia.

Em setembro, a produção industrial paulista cresceu nada menos que 6%. Índice altíssimo, que só foi superado pelos 6,7% registrados em outubro de 2002.

Se o Brasil (e não só a indústria paulista) crescesse algo dessa ordem, poderíamos ter fundadas esperanças de que estaríamos caminhando para o rol dos países desenvolvidos. Mas, se cresceu tanto, porque não aumentaram os empregos? É que existem outros fatores que só os economistas parecem entender, que justificam situações tão paradoxais.

A indústria paulista, como outra qualquer, tem ociosidade. Não trabalha com toda a sua potencialidade. Assim, o aumento da produção ou da produtividade resultam em crescimento, mas nem sempre em empregos. Pode ser crescimento de trabalho ou mesmo menos trabalho, quando se trata de produtividade estimulada por tecnologia.

Existem também outras fórmulas, como a criação de horas extras. Estas aumentam a produção, sem obrigar a contratação de novos trabalhadores.

Considere-se, ainda, que a estatística positiva pode referir-se a apenas alguns setores industriais e não a todo o conjunto produtivo do setor secundário. Cresce aqui, mas baixa ali. Emprega-se num setor, mas desemprega-se em outro.

O Brasil, que recuperou em parte a confiança do mercado internacional, ao contrário do que muitos pensam, está recebendo do exterior novos recursos, mas em sua maioria especulativos e não investimentos diretos. Estes encolheram em relação ao que acontecia no governo passado.

E são os investimentos diretos que criam empresas, fábricas, novos empreendimentos, que de fato geram riquezas e empregos. O capital externo continua arredio e isso colabora para não haver a retomada do emprego.

Sem dúvida, o número positivo da produção industrial, no nível de 6%, é muito interessante, mas é bom que os economistas expliquem muito bem ao povo por que não crescem os empregos. Estes, por enquanto, estão esperando projetos quiméricos, como o primeiro emprego e as frentes de trabalho, o que não satisfaz.

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