O setor sucroalcooleiro do Brasil vai ter de correr contra o tempo para conseguir ajustar a oferta de cana-de-açúcar à crescente demanda por açúcar e álcool tanto no mercado interno como no internacional.
Este é o principal desafio que está sendo debatido, nesta terça-feira, na 5.ª Conferência Internacional de Açúcar, Álcool e Energia, promovida pela consultoria Datagro. Plínio Nastari, presidente da Datagro, estima que o Brasil precisará produzir 672 milhões de toneladas de cana até 2013, ante os atuais 400 milhões de toneladas, uma expansão de 68%. "O setor tem de ser rápido porque esta cana deverá ser plantada nos próximos 2 a 3 anos", disse.
O lado bom é que esta maior demanda deve deixar os preços sustentados por um bom período. "Os fundos já estão vendo este fundamento e por isso continuam aumentando seu saldo comprado na bolsa de Nova York para níveis recordes", disse.
Apesar do dólar mais baixo ante o real ter anulado parte das margens do setor, Nastari disse que dinheiro não é problema no momento para investir no crescimento da produção. "O setor está financiando seus novos projetos com operações estruturadas sobre recebíveis de contratos de exportação", disse. O consultor explica que as usinas estão utilizando seus contratos de longo prazo, de vários anos, para financiar projetos e dão os recebíveis de suas exportações como garantia no mercado financeiro.
Cerca de 41 projetos estão previstos para os próximos anos no Centro-Sul dos quais 28 localizados no Estado de São Paulo. Segundo ele, o problema das garantias pedidos pelo setor financeiro para realizar financiamentos ainda é um obstáculo para a concretização destes projetos.
"Se os preços continuarem remuneradores no médio prazo, novos projetos deverão surgir, mas mesmo com os novos projetos será difícil atingir a meta de produção para os próximos 5 safras, que pressupõe um crescimento anual em torno de 8%", acrescenta.
Os 41 projetos de usinas que estão em gestação no Centro-Sul deverão produzir um adicional de 70 milhões de toneladas de cana nos próximos 5 anos. Ao lado de outros 35 milhões de toneladas conseguidos por meio da expansão da produção de unidades já existentes, o Centro-Sul deverá estar com uma produção superior em 105 milhões de toneladas em 2010/11. "Mas este crescimento estimado ainda é insuficiente", disse o diretor da Única, Antonio de Pádua Rodrigues.
Segundo ele, considerando que o Norte/Nordeste manterá sua produção de cana praticamente estável nos próximo 5 anos – em torno de 55 milhões de toneladas -, basicamente por motivos geográficos que impossibilitam a expansão de área, a produção de cana total do Brasil deverá atingir 2010/11 em torno de 510 milhões de toneladas. "O ideal seria 560 milhões de toneladas", disse.
A estimativa é de que toda a expansão necessária será feita no Centro-Sul, principalmente em São Paulo, Goiás, Triângulo Mineiro, Paraná e Mato Grosso do Sul. Em São Paulo, este crescimento deverá estar concentrado na região de Araçatuba Barretos e Presidente Prudente, áreas hoje ocupadas predominantemente com pastagens.
O consultor Plínio Nastari, da Datagro, lembra que hoje, dos 20,4 milhões de hectares agricultáveis, pouco mais de 2 milhões são ocupados com cana, enquanto 10,2 milhões de hectares são utilizados hoje como pastagens. "Muitas vezes estes pastos estão degradados e não totalmente utilizados e poderiam ser plantados com cana e o pecuarista ainda poderia utilizar a palha de cana para silagem de engorda intensiva de bois, feita em espaços menores", disse.
Este crescimento esperado na área de cana deve ser atingido, segundo Pádua, porque o cenário de demanda para 2010/11 é de um consumo interno de álcool combustível de 22,1 bilhões de litros e exportação de 5,2 bilhões. O Brasil consome internamente cerca de 15 bilhões de litros hoje e exporta 2 bilhões. A expectativa é de que o consumo interno de açúcar seja de 11 milhões de toneladas, ante 8 milhões atualmente, e a exportação atinja 24 milhões de toneladas, ante cerca de 17 milhões de toneladas hoje.