A Petrobras deverá registrar em 2006 o maior aumento de produção de petróleo no mercado interno em um único exercício, com impacto direto no faturamento, na balança comercial e até no Produto Interno Bruto (PIB). Pelas projeções da empresa, a produção de 2006 deverá oscilar em torno de 1,91 milhão de barris diários, com acréscimo de cerca de 230 mil barris em relação à média do ano passado. O aumento de 2005 já havia sido o maior em um único exercício, registrando produção média diária de 1,684 milhão, com acréscimo de 191 mil barris diários em relação a 2004. Em apenas dois anos, a petroleira estima incremento na produção de cerca de 420 mil barris diários após permanecer dois anos (2001 e 2002) praticamente no mesmo nível, em torno de 1,5 milhão de barris diários.
Em termos financeiros, aos preços atuais do petróleo no mercado internacional, a produção projetada da Petrobras para 2006 significa movimento em torno de US$ 35 bilhões, considerando-se um preço médio ao redor de US$ 50 por barril. Com o acréscimo da produção previsto para este ano, o empresa ganhará um faturamento extra em torno de US$ 4 bilhões. Se o preço do barril subir para a faixa de US$ 60, o faturamento da companhia poderá atingir US$ 42 bilhões, com o aumento da produção anual contribuindo com mais US$ 5 bilhões.
Só o aumento da produção/faturamento da Petrobras é semelhante ao faturamento anual de algumas grandes empresas brasileiras, como a siderúrgica Arcelor ou o grupo varejista Pão de Açúcar, cujas vendas estão em torno de US$ 4,5 bilhões por ano.
O forte aumento da produção tem amplificado os efeitos na balança comercial devido à virtual estagnação no consumo interno. Em 1999, o Brasil consumia 1,608 milhão de barris diários e registrou aumento de apenas 100 mil barris no intervalo de seis anos, o que significa variação de 6%. Já a produção interna no mesmo período aumentou cerca de 70%, com acréscimo de quase 800 mil barris por dia.
Em 1999, conforme dados da Petrobras, a produção interna ficou em torno de 1,1 milhão de barris, com o consumo em torno de 1,6 milhão de barris, com déficit de 480 mil barris por dia naquele ano. A expectativa da Petrobras é obter superávit de 160 mil barris por dia este ano, numa reviravolta expressiva na balança comercial em seis anos.
Além de aumentar o faturamento, a estatal muda a sua situação em termos de exportação e importação, passando a figurar entre as exportadoras líquidas (e torce para a alta do dólar ante o real). A expectativa da Petrobras é alcançar superávit comercial de US$ 3 bilhões, invertendo o quadro histórico de déficits seguidos no setor nas últimas décadas. Em 2004 o déficit comercial do segmento de petróleo e derivados atingiu US$ 5,5 bilhões e US$ 4,6 bilhões no ano passado. O setor de petróleo já é o de maior peso no PIB e o aumento de produção da estatal vai contribuir de forma positiva para esse indicador este ano.
Sem o aumento da produção interna e aos preços atuais do petróleo, após a forte alta dos preços do óleo no mercado internacional nos últimos anos, o panorama para a empresa e para a balança comercial seria bem menos favorável. Se o desequilíbrio entre a produção interna estivesse no mesmo nível de 1999, com o déficit diário de 480 mil barris, o País teria um desembolso líquido (exportações menos importações) em torno de US$ 9 bilhões este ano, com o barril sendo negociado a US$ 50. Se o preço ficar em torno de US$ 60 o barril, o prejuízo no segmento petróleo subiria para US$ 10,5 bilhões.
