Um dia após a Confederação Nacional da Indústria (CNI) ter festejado a reação favorável do setor em setembro, a divulgação dos indicadores do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) jogou um balde de água fria no mercado. A queda na produção de veículos automotores em setembro e a continuidade dos efeitos do câmbio derrubaram a produção industrial no mês. Os dados do IBGE mostraram queda de 1,4% na produção ante agosto, anulando as duas altas consecutivas anteriores. A produção de bens de capital, um termômetro para as perspectivas de investimentos, também recuou.
O mau desempenho da indústria levará a uma enxurrada de revisões nas projeções de analistas do mercado para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do País neste ano. Apesar da queda ante o mês anterior, a indústria mostrou resultados positivos, ainda que com perda de ritmo, nas demais comparações: 1,3% ante setembro de 2005; 2,7% no acumulado do ano; 0,4% no terceiro trimestre ante o segundo trimestre e 2,7% no terceiro trimestre ante igual período do ano passado.
Silvio Sales, chefe da coordenação de indústria do IBGE, disse que, com os resultados de setembro, o setor trocou uma trajetória de crescimento suave no primeiro semestre de 2006 por uma "estabilidade" no terceiro trimestre. "Os resultados repetem um pouco aquele padrão que temos observado há vários meses: a indústria fica em sobe e desce", disse Sales.
O segmento de veículos automotores registrou queda de 9,3% na produção em setembro ante agosto, em conseqüência de greves nas montadoras. Mas Sales ressaltou que, ainda que a indústria automobilística tenho sido a principal influência sobre o resultado negativo, não foi a única, já que 12 dos 23 segmentos investigados na comparação com mês anterior apresentaram queda na produção.
O mau desempenho da indústria levará o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) a revisar para baixo a projeção de expansão do PIB em 2006, hoje em 3,3%, segundo adiantou o economista da instituição Estevão Kopschitz. "Só queda de juros não leva ao crescimento, a carga tributária cresceu muito, a infra-estrutura e a taxa de investimento não melhoraram", disse ele.
A economista Cristiane Quartaroli, do banco Santander, também revisará as projeções para 2006. Atualmente, a previsão do banco aponta uma expansão de 3,1% para o PIB. "Devemos mudar o número para um nível abaixo de 3%", afirmou. Mauricio Oreng, economista da Itaú Corretora, deve revisar sua atual projeção de 3,4%, para algo próximo de 3,2%. O ABN Amro Asset Management reduziu a estimativa de crescimento de 3% para 2,9%.
