A Procuradoria-Geral da República informou ontem que recebeu do Ministério Público de São Paulo cópia do depoimento de Altivo Ovando Júnior, secretário municipal de Habitação de Mauá, na Grande São Paulo, que acusa o ex-ministro José Dirceu e o presidente Lula de terem participado de uma reunião em 1998 na qual teria sido discutido suposto esquema de arrecadação de propinas. Na época, Lula era candidato do PT à Presidência pela terceira vez consecutiva.

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Segundo Ovando, Lula teria dito ao então prefeito de Mauá, Oswaldo Dias (PT): "Oswaldão, tem que arrecadar mais, faz que nem o Celso Daniel em Santo André. Você quer que a gente ganhe a eleição como?

"Lula nunca falou comigo nesses termos", declarou ontem Oswaldo Dias. O ex-prefeito desmentiu Ovando, que também foi seu secretário da Habitação e hoje é ligado ao PV. "Os contatos que eu tive com o presidente não foram para tanta intimidade. Nunca tive uma conversa dessas com ele, de jeito nenhum", disse Dias.

Segundo a promotoria criminal de Santo André, que ouviu o secretário em 9 de fevereiro, ele fez esta afirmação: "O declarante se recorda de que, no pleito de 1998, o presidente Lula compareceu no gabinete do prefeito de Mauá, oportunidade em que, utilizando termos chulos, cobrou de Oswaldo Dias maior arrecadação de propina em favor do PT.

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Dias confirmou ter recebido Lula em seu gabinete. "Nada mais normal, eu era prefeito do PT. Na minha sala mesmo passou só uma vez, foi uma visita de cortesia, acho que em 97. O presidente jamais me abordou, nem para pedido especial nem para alguma coisa." O ex-prefeito disse que todo o seu secretariado – 14 pessoas – estava reunido em seu gabinete para receber Lula.

Dias observou que na época em que era prefeito, Ovando começou a cuidar de uma questão envolvendo a cessão de uma grande área no centro da cidade para uma rede de supermercados que ali construiu um shopping. "Depois, essa tarefa foi repassada para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico, mas eu nunca achei que isso poderia ter causado melindres a ele. Talvez seja esse o motivo (das denúncias)."

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Em entrevista na terça-feira, Ovando citou apenas o ex-ministro. "José Dirceu comentava abertamente que era obrigatório ter esquema de arrecadação de dinheiro, que todo município petista participava." Ovando disse que deixou o cargo de secretário do governo Oswaldo Dias porque a pressão era grande. "Eles disseram: ‘Ou você faz ou está fora’. Saí na hora. Hoje todo mundo sabe dessa indústria de corrupção montada pelo PT. Infelizmente, o PC Farias seria só aprendiz em meio a essa indústria de arrecadar dinheiro que o PT montou." O procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, informou por meio de sua assessoria que recebeu o depoimento de Ovando, mas ainda não decidiu sobre as providências que pretende tomar.