Horas após Eduardo Appio, novo juiz responsável pelos processos da Lava Jato em Curitiba, divulgar vídeos da audiência desta segunda-feira (27) do ex-advogado da Odebrecht Rodrigo Tacla Duran, o procurador da República Walter José Mathias Júnior, que representou o Ministério Público Federal (MPF), foi alvo de ataques cibernéticos.

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Na audiência, Tacla Duran tentou, pela terceira vez, atribuir ao ex-juiz Sergio Moro e ao ex-procurador Deltan Dallagnol o crime de extorsão.

A conta de Mathias Júnior no Twitter foi invadida, e dados pessoais, como endereço e telefones, foram coletados pelos invasores. O perfil na rede social ainda não foi recuperado. Criminosos ainda tentaram, sem sucesso, acessar sua conta no aplicativo de mensagens Telegram e seu e-mail pessoal.

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“Nunca tinha sido vítima desse tipo de situação em toda a minha vida, e ‘coincidentemente’ ocorre horas após uma audiência bastante tumultuada. Esses invasores se apossaram de informações sigilosas, número de telefone, e-mail, endereço. É uma situação grave, que coloca em risco minha integridade e a da minha família, e que pretende claramente desestabilizar o meu trabalho”, afirmou o procurador.

“Está bem claro para mim que foi um ataque não somente à minha pessoa, mas também às minhas atribuições no caso Lava Jato”, disse Mathias Júnior, que está há um ano atuando nos processos da Lava Jato.

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As acusações de Tacla Duran contra Moro e Dallagnol ocorreram na semana seguinte à deflagração da operação da Polícia Federal (PF) que prendeu criminosos do PCC que planejavam um atentado contra o senador paranaense e outras autoridades que combatem o crime organizado. O episódio motivou uma declaração por parte do presidente Lula (PT), na qual o petista levantou suspeita sob atuação da PF e disse que considerava se tratar de uma “armação” por parte do ex-juiz. A fala foi considerada desastrosa até mesmo pelos aliados mais próximos do petista.

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Diante da crise no governo, que já durava dias, vários influenciadores e veículos de mídia apoiadores de Lula aproveitaram as declarações de Tacla Duran para tentar desviar as críticas ao presidente da República e criar uma contraofensiva a fim de desgastar a imagem de Moro, que havia saído fortalecido politicamente após os episódios do plano do PCC e da entrevista em que Lula afirmou que queria se vingar de Moro quando estava preso na PF.

Imediatamente após a audiência, alguns veículos alinhados à esquerda chegaram a publicar textos críticos ao procurador, que havia apontado que a nova denúncia de Tacla Duran era infundada, sem provas que a embasassem. Horas antes, Mathias Junior havia pedido ao juiz que fosse atribuído sigilo à audiência e ao processo. Appio, entretanto, ignorou o pedido, e o caso ganhou amplo destaque.

Outros ataques cibernéticos a membros da Lava Jato

Depois dos ataques, Mathias Junior acionou o Gabinete de Segurança Institucional e a Secretaria de Tecnologia da Informação do MPF. Se houver avanço nas apurações, as informações coletadas serão remetidas à Polícia Federal para instauração de inquérito, uma vez que o caso envolve um procurador da República.

“Eu uso aplicativos para conversar com meus assessores e com outros colegas sobre estratégias que vamos tomar. Tudo isso deve ser reservado. Um ataque como esse fragiliza seu trabalho, te desestabiliza”, afirmou o procurador. “Já aconteceram no passado essas invasões criminosas a membros do Ministério Público, inclusive sem a devida reprimenda, o que faz perpetuar esse tipo de investida contra o profissional e a própria instituição”, lamentou.

Em junho de 2019, conversas por mensagem de texto no aplicativo Telegram atribuídas ao ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-PR), ao ex-procurador Deltan Dallagnol (Podemos-PR) e a outros integrantes da Operação Lava Jato foram obtidas a partir da invasão de hackers a aparelhos celulares e acabaram divulgadas em um site de notícias.

No mês seguinte, a PF prendeu o autor dos ataques como parte da Operação Spoofing. Um laudo da Polícia Federal concluiu que não era possível apontar autenticidade das conversas. Mesmo assim, o ataque foi responsável por enfraquecer a Operação Lava Jato.

Em fevereiro de 2023, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu arquivar um inquérito contra membros da força-tarefa da Lava Jato que apurava uma suposta tentativa de intimidação dos ministros do Tribunal por parte dos procuradores. As investigações foram abertas a pedido do próprio STJ no ano passado, após o vazamento de mensagens obtidas durante a Operação Spoofing.

Pelas redes sociais, Moro afirmou que as mensagens hackeadas e divulgadas publicamente só ajudaram a soltar bandidos e a prejudicar o combate à corrupção no Brasil.


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