Brasília – O procurador da Fazenda Nacional, Glênio Guedes, depôs hoje na sub-relatoria de Movimentação Financeira da Comissão Parlamentar Mista de Inquéritos dos Correios. Guedes negou ter atuado em favor do empresário Marcos Valério no Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional (CRSFN).
A ligação entre os dois foi apontada pela ex-secretária de Valério na empresa de publicidade SMP&B Fernanda Karina Sommagio. Na agenda de Fernanda, constam citações de pagamento de passagens e hospedagem do procurador. Levantamento do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) mostra ainda depósitos que somam cerca de R$ 1 milhão feitos por Marcos Valério em uma conta que Guedes mantém com o pai e a mãe.
"Parte desse dinheiro foi devolvida e a outra parte pagou os serviços prestados pelo escritório de advogacia do meu pai para o escritório Tolentino Melo Associado – do qual Marcos Valério é sócio. As despesas que a SMP&B pagava para mim faziam parte do acerto de contas", disse o procurador da Fazenda Nacional, que foi afastado do CRSFN e está de licença médica da Procuradoria.
"Eu nunca atuei em favor do Marcos Valério ou dos clientes dele no conselho. Nenhum dos pareceres citados pela imprensa feitos para processos contra o Banco Rural estavam sob minha responsabilidade. Nas reuniões em que eles foram discutidos, eu sequer me manifestei."
Glênio Guedes explicou como uma "questão familiar" o fato de um serviço prestado pelo escritório do pai ter resultado em pagamento de suas despesas. O procurador classificou de "coincidência" a relação pessoal que mantinha com Marcos Valério. Os dois teriam se conhecido em um centro hípico em Belho Horizonte. "Não tenho amizade com ele. Tínhamos encontros casuais na hípica. Pelas lentes de interpretação da época, não havia problema nisso", afirmou Guedes.
Os integrantes da CPMI dos Correios consideraram o depoimento do procurador inconsistente e chegaram a demonstrar irritação com a forma como ele respondia às perguntas. O deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) chegou a alertá-lo sobre o risco de sair da comissão preso por tomar a iniciativa de ensinar normas jurídicas aos parlamentares e responder às indagações com perguntas.
Faria de Sá sugeriu a convocação do pai de Guedes, Ramon Prestes Guedes, para depor na comissão e também pediu a quebra de sigilo bancário do procurador. "O pai dele tem 72 anos. Acho que foi usado pelo filho nesse esquema com o Marcos Valério", afirmou o petebista.
O sub-relator de Movimentação Financeira da CPMI dos Correios, Gustavo Fruet (PSDB-PR), considera suspeita a contração do escritório do pai de Glênio Guedes – localizado no Rio de Janeiro – por um escritório de Minas Gerais que tem entre os sócios, além de Valério, o ex-auditor da Receita Federal Toledo Melo.
"O depoimento do Glênio é uma variante de uma questão maior que estamos investigando: as conexões estabelecidos pelo empresário Marcos Valério a partir de 2003", ressaltou Fruet. "A convocação do pai do procurador pode ser feita para esclarecer essas conexões."