O corpo do ex-técnico Telê Santana será enterrado neste sábado, às 11 horas, no Cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte, onde é velado desde as 17 horas desta sexta-feira. A morte põe fim a um longo calvário do ex-treinador, provocado por diversos problemas de saúde, que começaram há mais de 10 anos.
O primeiro deles foi em 30 de dezembro de 1995. Telê passava férias em Porto Seguro, no Sul da Bahia, quando, numa roda de amigos, sentiu-se mal e teve a impressão de que sua boca havia entortado. Ele relatou o fato à mulher, Ivonete, que o tranqüilizou, dizendo não haver nada de errado com o rosto do marido. Como o problema passou em questão de minutos, o ex-treinador não deu importância devida ao ocorrido. Era, no entanto, um sinal claro de isquemia cerebral.
Telê só procurou tratamento em meados de janeiro de 1996 Ele relutou, por medo, em fazer alguns exames indicados, como uma ressonância magnética no crânio e uma tomografia, mas um ultra-som Doppler na carótida esquerda, uma artéria do pescoço, revelou uma lesão moderada.
No dia 29 daquele mesmo mês, o cardiologista Giuseppe Dioguardi, do Instituto Dante Pazzanese, em São Paulo, decidiu submeter o então técnico do São Paulo a um cateterismo. Telê chegou ao local do exame dirigindo o próprio carro e de bom humor. A informação do médico era de que o procedimento seria simples e o paciente poderia voltar para casa naquele dia.
O exame foi realizado pelo diretor do Dante Pazzanese, José Eduardo Sousa. Telê, no entanto, nunca mais voltou a ser o mesmo. Após o cateterismo, que durou três horas, ele retornou ao quarto nervoso e com as pontas dos dedos roxas.
Dioguardi decidiu mantê-lo internado e, ainda no dia 29, Telê sentiu-se mal e teve desmaios. Finalmente, no dia seguinte, foi feita uma tomografia do crânio, pelo neurocirurgião Marco Prist Filho, que constatou cinco lesões provocadas por acidente vascular cerebral (AVC).
Segundo declarações de Dioguardi na época, nenhuma delas foi resultado do exame daquele dia. Telê acabou ficando no hospital por uma semana e voltou para casa com seqüelas, como confusão mental e raciocínio lento.
A família do ex-treinador, sobretudo o filho, o também técnico Renê Santana, contestou os médicos, alegando que Telê nunca mais recuperou sua condição normal após os exames do fim de janeiro de 1996. Para os familiares, algo de errado aconteceu naquele dia e o ultra-som Doppler e o cateterismo não poderiam ter sido feitos antes da ressonância e da tomografia. O cardiologista Giuseppe Dioguardi e o neurocirurgião Marco Prist Filho sempre sustentaram seus procedimentos.
Dioguardi argumentou que o próprio Telê recusou-se a fazer os dois exames e que a família autorizou o Doppler e o cateterismo.
Depois dos episódios de 1996, a saúde de Telê deteriorou-se progressivamente. Em 2003, novos problemas de circulação obrigaram o ex-treinador a amputar parte da perna esquerda. No dia 25 de março passado, Telê sentiu-se mal em casa e foi internado no hospital Felício Rocho, onde os médicos diagnosticaram uma infecção no abdômen. O problema inicial foi tratado, mas novos focos de infecção surgiram, sobretudo nos pulmões. O ex-treinador foi medicado com antibióticos, que controlaram a febre até a quarta-feira, dia 19 de abril.
A partir daí, o organismo de Telê deixou de reagir aos remédios e seu estado agravou-se. Durante quase toda a longa internação, o paciente respirou por aparelhos e alternou momentos de sedação e consciência.
De acordo com o médico José Olinto Pimenta Figueiredo, que coordena o Serviço de Medicina Interna do Hospital Felício Rocho, os problemas de saúde anteriores de Telê contribuíram para agravar o estado do ex-técnico, que acabou não resistindo às diversas infecções e morreu em decorrência de falência múltipla de órgãos.