O primeiro governo Lula está no seu quarto final. O debate que sobre ele se trava em meio a tempestades é se foi ou não ético; se se pagaram mensalões. Caixas 2, não há dúvida que existiram. Esse barulho todo é abafado porque Lula é uma novidade na política brasileira, homem de esquerda quando todos os que o antecederam foram de centro ou de direita; operário, quando os antecessores foram patrões ou profissionais liberais representando o capitalismo e os capitalistas. Enfim, um homem do povo, enquanto os outros presidentes eram da elite e a representavam. Elite econômica. E ainda alguns foram militares. Suas estrelas políticas estavam nos uniformes.

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A densidade do suporte eleitoral de Lula lhe dá uma espécie de indulgência. Indulgência quase plena. E, ao que tudo indica, todas as acusações que pesam sobre ele e seu governo vão acabar num ?acordão?, nome mais politizado de pizza política. Daí porque falamos em primeiro governo de Lula, pois ele deverá ser candidato à reeleição. E sua reeleição não é impossível, embora muitos a considerem improvável e não poucos, indesejável.

Abluções livrem este governo de tantos e todos pecados. Vamos olhá-lo pelo mal maior, que nada tem a ver com ética e sim com a prática e competência para bem governar.

A cada dia se descobre que o atual governo é pobre em planos e projetos. E não tinha nenhuma experiência administrativa. Nem o presidente nem a grande maioria dos que o cercam. O mais experiente parecia ser o ministro Cristovam Buarque, da Educação, que foi mandado embora porque reclamava por verbas para a sua pasta. Ele foi governador do Distrito Federal. Antônio Palocci, o homem mais forte do governo na área administrativa, pois na política foi o José Dirceu, é médico de formação e foi prefeito de uma cidade do interior paulista. Não é economista, nem contador, nem administrador de empresas ou líder empresarial. É até admirável que entenda de economia, ou melhor, de política financeira, como entende. Os credores, especialmente os estrangeiros, o aplaudem.

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O que faltou nesse governo que representa o ?debut? da classe operária no poder foi, além de projetos e planos, algum sentido de prioridades.

Os recursos públicos, por maior que seja a carga tributária, sempre são escassos. Escassos diante das necessidades do País. É preciso saber administrá-los, dividindo-os com muito critério, numa adequada escala de prioridades. Isso este governo não soube fazer. A soma das despesas com educação e cultura foi menor do que os recursos para transportes, veículos, pneus, combustíveis, locomoção, enfim. A soma das despesas com viagens, incluídas as dos demais poderes, ultrapassou os orçamentos de vários ministérios importantes. Inclusive o de Educação.

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O governo, na derradeira hora, libera recursos para tapar buracos em estradas. Não olhou como prioridades as rodovias asfaltadas até que elas viraram buracos. O erro na escala de prioridades fará com que se gaste muito mais do que seria gasto se houvesse, desde o início, manutenção das rodovias. Especialistas afirmam que a tapação de buracos será uma emenda pior que o soneto. Custará um dinheirão e durará pouquíssimo tempo. Por ser um trabalho provisório, vai durar no máximo até as eleições e, então, tudo terá de ser refeito.

Governar exige sabedoria, parcimônia, conhecimentos, tino administrativo, se possível ética e sentido de prioridades. Senão, a coisa não funciona.