Brasília (AE) – Os principais envolvidos na suposta extorsão da multinacional Gtech do Brasil serão acareados quarta-feira, na CPI dos Bingos. Os parlamentares querem ver frente a frente o ex-chefe da assessoria parlamentar da Presidência Waldomiro Diniz, o diretor da empresa Marcelo Rovai, o empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, e os advogados Enrico Gianelli e Rogério Buratti, ex-secretário de governo de Ribeirão Preto na gestão do prefeito Antonio Palocci.
Todos eles já prestaram depoimentos à comissão, mas muitos episódios permaneceram obscuros. Apesar das contradições, a única certeza dos integrantes da comissão é que a propina da Gtech na renovação do contrato de R$ 600 milhões com a Caixa Econômica Federal foi disputada por dois esquemas com conexões com o governo. Buratti e Waldomiro são apontados como representantes das duas alas que disputaram o achaque. "É a conclusão a que chegamos examinando os dados em poder da comissão", explicou o senador José Jorge (PFL-PE).
O diretor Marcelo Rovai negou na comissão que a Gtech tenha pago para continuar prestando serviços à Caixa. Ele não convenceu. Até porque não deu explicações convincentes sobre as cincos remessas, no valor total de R$ 5,03 milhões, que a multinacional fez em favor da MM Consultoria, um escritório de advocacia de Belo Horizonte acusado de intermediar transações suspeitas.
As maiores parcelas do depósito, de R$ 1,9 milhão e R$ 1 6 milhão, foram feitas antes e depois da data da assinatura do contrato, em 8 de abril de 2003. Rovai disse que o dinheiro era para pagar os serviços advindos de uma única ação em favor da Gtech no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Segundo ele, a extorsão não passou de tentativas frustradas feitas por Waldomiro Diniz, que na época atuava na Casa Civil, e por Rogério Buratti, de receber R$ 6 milhões em troca de "facilidades" na renovação do contrato.
Buratti disse no depoimento que recebeu uma proposta de pagamento de propina, entre R$ 500 mil a R$ 15 milhões, para que negociasse e garantisse o apoio do Ministério da Fazenda à renovação do contrato. Cachoeira e Enrico são suspeitos de terem ajudado na aproximação dos envolvidos.
O relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), analisa a possibilidade de incluir na acareação o dono da MM Consultoria, advogado Walter Santos Neto, cujo depoimento à comissão deixou mais dúvidas do que respostas. A quebra do sigilo bancário da empresa mostra uma movimentação incompatível com a atuação jurídica do advogado. É o caso, por exemplo, do recebimento do depósito de R$ R$ 7,03 milhões da Construtora Camargo Correa, e de 12 transferências feitas pela empreiteira Mendes Júnior no período de agosto de 2000 a novembro de 2003. As maiores dela nos valores de R$ 520 mil e R$ 344 mil. As menores, de R$ 100 mil.
