Primeira crise

Afinal, mas não finalmente, a nova administração Lula deverá começar nesta segunda-feira. No papel talvez, mas já com o plano de desenvolvimento econômico encomendado aos ministros de plantão, documento que deverá ser trazido ao conhecimento da nação. O anúncio do ministério, que se dizia aconteceria neste mesmo período e dependente dos compromissos dos escolhidos e seus partidos com o projeto do governo, vai ficar para depois. Sua formação depende mais de acertos de ordem política dentro do condomínio situacionista do que de planos e projetos. E muito menos de ideologias. Na prática, a coalizão partidária que se formou em torno de Lula ainda nem começou a funcionar e já eclode a primeira crise.

O PT mostra-se conformado a ir para o sacrifício, abrindo espaços para os aliados e os que vierem a aliar-se ao governo. Mas o grupo dos aliados históricos, o PCdoB e o PSB, também já se consideram preteridos pelo Planalto. Para estes, Lula estaria de costas para os verdadeiros amigos e disposto a formar um governo que estará longe de chancelar ou mesmo oferecer algum espaço respirável para a esquerda a que diz pertencer. A esperança estava no apoio expresso, mas retirado em recuo estratégico, à candidatura de Aldo Rebelo para a presidência da Câmara. A preferência pelo candidato comunista em prejuízo da do petista Arlindo Chinaglia estava sendo engolida até que as bases deixaram claro que preferem este, atual líder do governo na Câmara. E no meio do entrevero nasceu a candidatura do paranaense Gustavo Fruet, do PSDB, capaz de, senão ganhar, pelo menos embolar o meio-de-campo, obrigando Lula a proclamar neutralidade e retirar o resultado desse pleito como ponto de partida para a formação do novo ministério.

Entre os críticos da posição neutra ou em cima do muro do presidente estão nomes de expressão, como o recém-eleito deputado Ciro Gomes, o governador de Pernambuco Eduardo Campos, o próprio candidato Aldo Rebelo e o dirigente do PCdoB Renato Rabelo. Essa gente sonhava, com estímulos do presidente, formar um núcleo político de esquerda para opor-se às forças conservadoras do condomínio governista. Hoje, já vislumbram um governo formado pelo grupo retrógrado do PT, a fisiologia de uma maioria do PMDB e legendas que fizeram história no episódio do mensalão: PTB, PP e PL. Imaginando-se, porque difícil e perigoso, que a formação da base governista desta vez terá de ser sem mensalão, sem a distribuição de dinheiro em troca de apoios, o que restam são cargos. Muito embora cada líder político que se diz a favor do novo governo de Lula publicamente fale em interesses nacionais e projetos de governo como os liames que os prenderiam ao poder, a verdade é que já nas vésperas da conturbada eleição para a presidência das duas casas do Congresso, ao pé do ouvido, o que se discute é um loteamento da nova administração.

Lula não estaria endossando essa luta por cargos e posições como paga por apoios, mas não se conhece uma via através da qual possa escapar da armadilha. Já há candidatos por atacado para cada cargo do primeiro escalão. Dois ou três para cada ministério. PTB e PP já se declararam governistas e esperam suas fatias. E o PR, fusão do PL com o Prona, também quer o seu quinhão. A crise está instalada e, mesmo que se acredite que só peru morre na véspera, um segundo mandato de Lula com identificável cara programática e ideológica já era, mesmo antes de iniciar-se o governo. A crise instalou-se na véspera.

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