Campinas (AE) – A trágica história da adolescente de 16 anos, única sobrevivente do envenenamento por arsênico que matou seus pais e irmã em Campinas (SP), teve um novo capítulo. Os parentes de Franca, a 400 quilômetros de São Paulo, desistiram de sua guarda e a entregaram à Vara da Infância e da Juventude de Campinas. Desde sexta-feira, M.M.C. está em uma casa de custódia da cidade, aguardando o encaminhamento de seu caso.
As mortes aconteceram em fevereiro deste ano. Os pais e as duas filhas foram internados em um hospital de Campinas e apenas a adolescente sobreviveu. O caso corre sob segredo de Justiça. M.M.C. chegou a ser apontada como suspeita durante a investigação, assim como seu pai, o médico Hudson Carvalho, mas o inquérito policial ainda não foi concluído.
A menina ficou com a avó paterna até fugir pela primeira vez. Passou uma semana longe de casa e, quando voltou, foi acolhida por uma amiga de Hortolândia durante dois meses, até que a Justiça entregasse a guarda para os parentes de Franca, em maio. A garota voltou a fugir no mês passado e ficou dois dias sem fazer contato com a família.
Depois disso, os parentes de Franca decidiram entregar a guarda e esperavam a destituição pela Justiça. Na sexta-feira, surpreenderam ao deixar a menina na Vara da Infância e da Juventude. "Não recebemos nem um telefonema para avisar", comentou o advogado da família paterna em Campinas, Daniel Keletti. O advogado da prima de Franca, José Eduardo Haddad, também ficou surpreso.
"Foi um ato de desespero. Tomaram a decisão sem minha orientação", comentou Haddad. Segundo ele, a adolescente manifestou desinteresse em continuar morando em Franca. Acrescentou que a situação piorou depois da fuga. "Ela telefonava para a família de Campinas dizendo que estava sendo maltratada", lembrou.
O advogado disse que toda essa situação acabou criando um ambiente ruim. "O filho da minha cliente chegou a sair de casa. A menina tinha que ser vigiada praticamente o tempo todo depois da fuga", disse. Ele afirmou que a adolescente freqüentava a escola e tinha acompanhamento psicológico.
Os parentes de Franca, segundo Haddad, não receberam nada durante o período em que a menina morou com eles. Haddad e Keletti explicaram que irão aguardar orientação do Juizado. Keletti acrescentou que a menina está sendo bem cuidada, mas não divulgou onde.
O irmão de Hudson, Franklin Carvalho, havia entrado com pedido de guarda da jovem antes de ela ser entregue à prima de Franca. "O tio está fora do Estado e estamos aguardando ele retornar".
Keletti alegou que a família ainda não sabe o que fazer e vai consultar o Juizado. Ele considerou a situação "inusitada" e disse que a guarda da adolescente deverá ser decidida nos "próximos dias".
O advogado da amiga que acolheu a garota por dois meses em Hortolândia, Fernando Lauer, explicou que ela nunca requereu a guarda da menor, mas a ajudou em um momento delicado e tentou reaproximá-la da família em Campinas.