Nesta noite o resultado das urnas já terá definido quem será o novo presidente do Brasil. Independentemente de colorações político-partidárias, o futuro presidente do país vai encontrar pela frente vários desafios. O maior deles, sem menosprezar nenhum outro, será combater ou ao menos controlar o déficit da Previdência Social.

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A Previdência Social já foi objeto de duas reformas, a primeira em 1998, ainda sob o governo Fernando Henrique Cardoso. A Emenda 20 trouxe como principal alteração, a fixação da idade mínima para a aposentadoria aliada ao tempo de contribuição, tanto dos servidores públicos das esferas municipal, estadual e federal, como também dos trabalhadores da iniciativa privada (INSS). Para estes, também foi introduzido o fator previdenciário com vistas a baixar os valores dos benefícios recebidos pelos trabalhadores quando se aposentam.

A segunda reforma foi feita no final de 2003, já sob as hostes do governo Lula, através da Emenda Constitucional 41, e focou, basicamente, a previdência dos servidores públicos. Entre as principais alterações, pode-se destacar a fixação da contribuição previdenciária de 11% para os servidores inativos e de um teto para aposentadorias e pensões de todos os servidores públicos, além do estabelecimento de idade mínima dos atuais servidores para 60 anos, homem, e 55 anos, mulher.

Apesar das duas reformas realizadas trazerem pontos positivos, não há estudos que apontem sua eficácia no combate ao déficit da previdência social, que cresce a cada dia.

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Em agosto, por exemplo, nos cofres da Previdência Geral, administrada pelo INSS, números apontam um déficit de R$ 3,1 bilhões, número 15,6% maior do que aquele registrado no mesmo mês do ano de 2005, de R$ 2,682 bilhões. De janeiro a agosto deste ano, o déficit acumulado atingiu R$ 25,577 bilhões, contra os R$ 22,612 bilhões do mesmo período do ano passado, ou seja, um aumento de 13,1%. Ainda em agosto passado, o secretário da Previdência Social, Helmut Schwarzer, anunciou que mantém em R$ 41 bilhões a estimativa de déficit nas contas do INSS para este ano.

Diante desses números, tudo o que resta ao novo presidente é propor uma nova reforma da Previdência Social, dessa vez com mudanças estruturais que possam evitar o aumento gradativo do déficit. Para tanto, as discussões devem reunir propostas de especialistas no assunto, assim como de representantes da sociedade civil organizada.

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Vale apontar aqui, quatro problemas básicos da Previdência Social no Brasil. O primeiro deles é o ambicioso programa da previdência e assistência que promete cerca de 22 benefícios e serviços e larga faixa de assistência. O segundo diz respeito à pulverização dos recursos, conseqüência do ambicioso programa do qual decorrem prestações mínimas para o segurado que nem pode se aposentar. O terceiro é a assistência médica que, não obstante de custo incalculável, é ilimitada e gratuita, e está embutida nas contribuições devidas pelos segurados. O quarto e último envolve a Desvinculação das Receitas da União (DRU), válida até dezembro desse ano e que todos os meses fica com 25% das receitas da Previdência para utilização em outras áreas. Enquanto essas causas não forem atacadas, a situação da Previdência Social será cada vez mais crítica.

Sobre as soluções possíveis, é preciso antes se debruçar sobre o programa, identificar as prioridades, racionalizar a distribuição dos benefícios e serviços, substituindo as prestações pouco significativas para os segurados ou até mesmo, se outra solução não houver, suspendendo temporariamente um ou outro benefício ou serviço. A assistência médica deve merecer uma contribuição separada, ainda que mínima, por exemplo, 0,5% (meio por cento) sobre a contribuição. O segmento da assistência médica deve ser adaptado ao sistema privado de livre escolha.

A previdência básica, relativa às aposentadorias, que é o objetivo central do sistema, e auxílios pecuniários relativos a contingências sociais, tais como a enfermidade decorrente de doenças profissionais, gravidez e velhice, devem ser estatais até porque a dispensa do empregado está coberta pelo sistema de FGTS de natureza eminentemente previdenciária.

Com relação aos 25% destinados à DRU, é preciso rever esse percentual e refletir sobre a canalização desses recursos para o próprio caixa da Previdência, até para saber qual o seu exato destino.

Além dos problemas apontados é necessário também incrementar outros mecanismos para debelar o déficit. É preciso um combate efetivo às fraudes, com a punição dos fraudadores, avaliar possibilidades de alíquotas de contribuição menores para micro e pequenas empresas e, principalmente, projetos de crescimento econômico que permitam tirar da informalidade milhares de trabalhadores que hoje não contribuem para a Previdência Social porque ela não lhes oferece nenhum atrativo.

Cláudia Timóteo é advogada especialista em Direito Previdenciário/Tributário.