Rio (AE) – A Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) negociava a venda da Telemig para a Vivo, controlada pela Portugal Telecom, desde dezembro de 2003, revelou hoje o presidente do fundo de pensão, Sérgio Rosa. A Portugal Telecom tem como principal acionista o Banco do Espírito Santo (BES), apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como a instituição financeira com a qual o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza tentava negociar – segundo o deputado, com o aval do deputado José Dirceu (PT-SP) – recursos para pagamento de dívidas de campanha do PTB e do PT.
Rosa informou ter sido procurado pelo representante de um banco credenciado pela operadora para intermediar o negócio. Não revelou o nome da instituição nem do interlocutor, mas foi taxativo: "Não foi o Banco do Espírito Santo." O BES era também a instituição para a qual Valério tentava intermediar a transferência de recursos do IRB-Brasil Re aplicados no exterior. A direção do IRB-Brasil recusou uma proposta do banco, feita em abril, de aplicação de US$ 100 milhões das reservas da instituição no exterior por falta de critérios técnicos.
Hoje, o Grupo Espírito Santo divulgou um comunicado no qual informa ter no Brasil investimentos de mais de US$ 1 bilhão e afirmando não ter vinculação com nenhum partido. "Não financiamos partidos políticos no Brasil, nem temos qualquer relação de negócios com o sr. Marcos Valério ou quaisquer de suas empresas", disse a direção do grupo.
Rosa não mencionou o nome da instituição nem do interlocutor que procurou a Previ, apesar de ressaltar que não há mais negociação em curso. Segundo ele, os encontros tiveram caráter técnico e negocial, sem qualquer pressão política para assegurar a transferência das ações para a operadora portuguesa. Ele confirmou, no entanto, que o Conselho da Previ, então presidido pelo ex-diretor de Marketing do BB Henrique Pizzolato, orientou a direção do fundo a sair do controle da Telemig em 22 de outubro, o que não foi acatado pela diretoria.
A decisão do conselho ocorreu três dias depois da visita do presidente da Portugal Telecom, Miguel Horta e Costa, ter sido recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto. Rosa afirmou que nunca esteve com nenhum executivo da operadora portuguesa, nem do BES e não relacionou a decisão do conselho presidido por Pizzolato a uma interferência política. "Nem conheço o sr. Marcos Valério", declarou. Segundo ele, a Previ manteve apenas "conversas informais" com o representante da Vivo, uma vez que precisaria do aval de todos os outros acionistas da Telemig, até mesmo do Grupo Opportunity, do banqueiro Daniel Dantas, para efetivar o negócio.
Rosa afirmou que os fundos de pensão patrocinados pelas estatais – além da Previ, a Petros (Petrobras) e a Fundação dos Economiários Federais (Caixa Econômica Federal) também participam estão dispostos a esclarecer qualquer procedimento adotado pela atual gestão. "Não temos nada a esconder", afirmou. Mas criticou a proposta de quebra de sigilo generalizada nas instituições. "Tem de haver uma motivação objetiva para uma eventual devassa", declarou.