Preto: cor da tranqüilidade

São Paulo (AE) – Tudo é uma questão de personalidade. O tom sombrio que costuma ser atribuído ao preto passa longe da concepção estética do empresário Houssein Jarouche, dono da loja de decoração Micasa, na região dos Jardins, em São Paulo. Para ele, a ausência de cor traz tranqüilidade – e, no caso de roupas ou carros, essa é a escolha usual. Mas a audácia de tingir as paredes do lugar onde mora com a tonalidade favorita só aconteceu por influência do arquiteto Sérgio Austrauskiene, que reformou o apartamento de 196 metros quadrados, em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista. ?O preto faz todo sentido para ele e reforça o espaço masculino?, ressalta o arquiteto. ?O objetivo da intervenção era trazer elementos que fizessem parte de sua história pessoal?.

Nessa busca por traduzir identidade na decoração, o arquiteto valeu-se de recursos notáveis, como as sancas e os pergolados de gesso nos ambientes sociais. De formatos arredondados, eles têm spots embutidos que resultam na iluminação indireta, cenográfica. Esse clima é reforçado pelo contraste com as paredes pretas, que servem de moldura ao espaço de convívio. Nele, a parede vazada com tela de plasma e aquário de água salgada faz também de divisória entre living e sala de jantar. ?Às vezes fico vendo o aquário em vez da TV; ele me transmite paz?, diz Houssein.

Na sala de jantar, brinca-se ainda mais com o preto e o branco nas cadeiras e mesa de laca desenhadas por Alain Blatche. Acima delas, a pérgola de gesso rebaixado deixa à vista um quadrado luminoso embutido, que lembra o décor dos anos 60s.

Diversos móveis e outros ícones também lembram aquela década, tão cara ao proprietário. ?Foi o melhor tempo para o design, tanto de móveis como de carros… Tudo o que se faz hoje são releituras?, diz.

Alusões aos carros não são mero acaso. Houssein tem o hábito de correr de kart, possui automóveis antigos e coleciona miniaturas que já são mais de duas mil. A do Alfa Romeo personalizada destaca-se no living. Outra mania: embalagens de Coca-Cola – até em árabe. Aliás, o sobrenome não é a única herança das raízes libanesas. Ele segue, de forma peculiar, o costume muçulmano de deixar a inscrição, ?Deus é Único?, próxima à porta de entrada. Só que ela aparece estilizada em um adesivo especial para parede criado pelo Estúdio Ep de Design, de São Paulo.

A fé religiosa ainda explica a presença de tapetes para orações, bússolas que apontam para Meca e o Alcorão. Há ainda uma tela do próprio Houssein com outra frase religiosa em árabe, abaixo das pinturas do inglês Paul Hosking, da Galeria Leme, de São Paulo (SP).

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