Carlos Alberto Parreira tem os melhores jogadores do mundo à sua disposição e está bem perto de garantir o Brasil na Copa da Alemanha, ano que vem. Mesmo assim, anda extremamente nervoso.
O técnico se irritou várias vezes com os jornalistas nos oito dias em que a Seleção esteve reunida para os jogos com o Peru (vitória por 1 a 0) e Uruguai (empate em 1 a 1), pelas Eliminatórias.
O último chilique foi na entrevista coletiva após o jogo contra os uruguaios, no estádio Centenário, em Montevidéu. Duas questões o tiraram do sério. O curioso é que ambas foram simples sem ‘alfinetadas’. A primeira: "Parreira, você ficou satisfeito com o empate ou frustrado pelo fato de a Seleção não ter saído com a vitória". A segunda: "Por que você começou jogando com o Ricardo Oliveira?" Para espanto geral, principalmente dos uruguaios, Parreira respondeu de forma ríspida.
O motivo para tanta irritação seria o excesso de pressão que vem recebendo por continuar bancando Ronaldo, mesmo com o próprio atacante admitindo estar em má fase, e deixar Robinho no banco de reservas, contrariando a vontade de boa parte da torcida brasileira.
Parreira odeia que suas opiniões sejam questionadas. "Não me sinto à vontade tendo que explicar os motivos de escalar este ou aquele. É opção do treinador e pronto". O curioso é que, quando questionado na semana passada se as pressões externas o têm abalado, Parreira garantiu que não. "Trabalho em seleções desde 70. Estou acostumado com isso".
Sua maior experiência no assunto foi durante as Eliminatórias para a Copa de 94, quando não convocava Romário de jeito nenhum, apesar dos protestos da torcida. Parreira chamou o Baixinho só no último jogo, contra o Uruguai, quando a classificação estava bem ameaçada. Romário fez dois gols, o Brasil foi à Copa e acabou campeão.
Na época, Parreira era bombardeado com perguntas sobre por quê não chamava Romário. Agora, tem de falar os motivos que o levam a manter Ronaldo no time. Contra Peru e Uruguai, o Fenômeno pouco participou dos jogos, mas, mesmo assim, não foi substituído em nenhum deles.
Sobre a atuação de Ronaldo contra o Uruguai, Parreira disse: "Ele tentou, fez o melhor que pôde. É um homem de frente, um finalizador, que encontrou dificuldades hoje (quarta-feira) porque teve três zagueiros o marcando em cima".
Dias antes, Parreira já havia dito que se sentia inconformado por ver alguns brasileiros "desdenhando" da qualidade técnica do Fenômeno. "O Ronaldo é o melhor do mundo, mas parece que a gente tem dificuldade em admitir isso".
Sobre a opção por Ricardo Oliveira, que não havia feito um treino sequer como titular, Parreira justificou que "desde o jogo contra o Peru sentia a necessidade de entrar com dois pontas de lança".
Vale lembrar que sua idéia original era escalar ao lado de Ronaldo o atacante Adriano, jogador com características semelhantes às de Ricardo Oliveira. Adriano, porém, se machucou em um jogo pela Inter de Milão e teve de ser cortado. No geral, chiliques à parte, Parreira disse ter ficado satisfeito com o empate no Uruguai. "Foi um resultado justo para um jogo que, talvez, tenha sido o melhor das Eliminatórias".
A Seleção volta a se reunir para os jogos contra o Paraguai, dia 4 de junho, e Argentina, dia 8, pelas Eliminatórias. Em seguida, parte para a Alemanha, onde disputará a Copa das Confederações. Antes, no dia 27 deste mês, um time formado com atletas que atuam só no Brasil faz um amistoso com a Argentina, no Morumbi.