Foram-se 15 anos até que a família de Flávio Carvalho Molina tivesse o reconhecimento do Estado de que ele foi um dos mortos políticos da ditadura militar.
Seus restos mortais foram encontrados em 1990, em uma vala comum no Cemitério Dom Bosco, em São Paulo, com o nome Álvaro Lopes Peralta, e só na última semana ele teve a ossada identificada através de um exame de DNA.
Entre as outras 1.048 ossadas de indigentes, presos políticos e vítimas dos esquadrões da morte encontradas na vala de Perus, apenas três foram identificadas até hoje. Na opinião de Iara Xavier, que integra a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, é importante que os familiares atuem pressionando o poder público. "Ao longo desses anos o papel dos familiares foi fundamental em todos os aspectos".
Para ela, a lentidão para essas identificações acontece por causa da falta de vontade política e da má conservação das ossadas. "Tem que ter a decisão política e condições técnicas de se fazer (os exames). A evolução do exame de DNA nesses últimos anos foi muito grande, então a possibilidade de sucesso é muito maior agora".
Xavier, que teve dois irmãos assassinados pela ditadura, afirma que a abertura das informações em poder dos militares é atualmente uma importante reivindicação dos familiares que ainda procuram desaparecidos políticos. "A grande luta dos familiares agora é a abertura dos arquivos, é que as Forças Armadas informe ao presidente da República o que foi feito com esses militantes".
O presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Agustino Veit, concorda que a abertura desses arquivos é fundamental para esclarecer as circunstâncias de diversas mortes no país e amenizar o sofrimento das famílias. "A figura do desaparecimento é muito mais dolorosa do que a própria morte. Com a morte você põe um ponto final na história e com o desaparecimento não".
Militante do Movimento de Libertação Popular (Molipo) e da Aliança Libertadora Nacional (ALN), Flávio Molina foi preso no DOI-CODI em 1971 e assassinado no mesmo ano. Os restos mortais do militante foram encontrados na Vala de Perus, localizada em 1990, no cemitério Dom Bosco.
Nos últimos 15 anos, vários laboratórios, inclusive no exterior, tentaram chegar, sem sucesso, a uma confirmação sobre a ossada. No último dia 2, a família do militante recebeu laudo que atesta que os restos mortais são mesmo de Flávio Molina.