A maioria dos detentos do sistema penitenciário paulista iniciou nesta quarta-feira (21) uma greve branca, convocada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), para denunciar suposta opressão humanitária praticada pelas autoridades carcerárias contra os colegas presos na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no Oeste do Estado.
Levantamento feito pela Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) constatou que o movimento atingiu, até o início da noite, 80 das 144 unidades penitenciárias do Estado, que abrigam 132 mil detentos. O movimento teve início de manhã e foi crescendo até atingir 65% dos presos do sistema no final da tarde.
Os detentos grevistas se recusaram a sair para o banho de sol, a atender as intimações judiciais e a comparecer às oficinas para trabalhar; em alguns casos se negaram a fazer os trabalhos internos, como distribuição de comida e limpeza.
O movimento foi convocado por detentos da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, onde estão presos 729 militantes do PCC. A convocação, segundo apurou o serviço de inteligência da SAP, começou a ser feita em meados de fevereiro, por meio de salves passados a visitas e levados para outros presídios, e por telefonemas feitos por celulares de dentro das celas.
A iniciativa surgiu depois da suspensão das visitas dos familiares aos presos da P-2, determinada pela SAP após os ataques a ônibus e uma viatura em São Paulo, no dia 06 de fevereiro. Na ocasião, houve revista na P-2 e 18 celulares foram encontrados. Três detentos – Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue; Fabiano Alves de Souza, o Paca; e Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka – flagrados com celulares, foram transferidos para o Regime Disciplina Diferenciado (RDD) da Penitenciária de Presidente Bernardes. Formalmente, os três deverão ser acusados de ser mandantes dos ataques, informou uma autoridade regional da SAP.
A Tropa de Choque da Polícia Militar passou o dia de plantão em frente da P-2, mas não houve necessidade de entrar.
Publicamente, os presos alegam que o movimento, intitulado por eles, como "greve branca", segundo a SAP, foi iniciado para protestar contra a "opressão carcerária" presente no sistema. Numa carta entregue aos jornalistas e endereçada à primeira-dama do Brasil, Marisa Silva, os detentos afirmam que estão sendo oprimidos e humilhados há muito tempo por agentes penitenciários e pelas autoridades carcerárias e avisa da possibilidade de um movimento. "Às vezes somos obrigados pela ignorância do próprio governo a fazer algo contra a nossa vontade, mas são (sic) a única forma de o governo nos ver e nos ouvir", diz o texto, de 3 páginas, assinado pela "População Carcerária do Estado de São Paulo".