Momentos depois de Lucio Gutiérrez ter assumido a presidência do Equador, líderes dos países da região convidados para a festa de posse já começavam a organizar uma reunião para formar um grupo internacional destinado a apoiar a mediação da crise na Venezuela.
Em Quito, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, comentou que, da reunião, que se realizaria no fim da tarde, não deveria participar nenhum representante dos Estados Unidos. “Pelo que entendi, trata-se de uma reunião de presidentes”, afirmou Chávez. “(George W.) Bush está aqui?”
Chávez qualificou de “uma boa iniciativa do Brasil” a chamada para a reunião dos presidentes dos países da região para “em primeira instância, defender a democracia na Venezuela”.
De acordo com fontes diplomáticas, o Grupo de Países Amigos da Venezuela, cuja criação foi proposta pelo presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, deve reforçar a posição de mediadora da Organização de Estados Americanos (OEA), que desde outubro tenta um acordo para conter a profunda crise que divide a sociedade venezuelana entre simpatizantes e opositores de Chávez.
Há 46 dias, entidades de oposição ao governo mantêm uma greve geral que paralisa, principalmente, a próspera indústria petrolífera venezuelana e está asfixiando a economia do país.
Os países participantes do grupo ainda não estão definidos, mas é possível que nele se incluam os EUA e dois representantes da União Européia (UE) – Portugal e Espanha -, que se dispuseram a ajudar.
A idéia de formar o grupo levantou, inicialmente, desconfianças em Washington e foi contestada pela oposição venezuelana.
Tentando afastar definitivamente o Brasil da mediação, um dos líderes da oposição venezuelana, Timóteo Zambrano, argumentou que países “que fazem fronteira com a Venezuela” não deveriam tomar parte do grupo, pois têm “interesses geopolíticos” na crise. Isso afastaria também a Colômbia, apesar da intenção do governo colombiano de ajudar na mediação.
“O tema venezuelano é uma preocupação de todos nós e queremos reiterar nossa solidariedade ao povo desse país”, afirmou o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe. “Todo esforço que se possa fazer para contribuir com a superação dessa dificuldade será bem-vindo.”
O secretário-geral da OEA e encarregado das negociações entre o governo e a oposição venezuelanos, César Gaviria, também participará da reunião.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, tem reiterado que a proposta formação do grupo visa a reforçar a posição de mediação da OEA.
Segundo deram a entender alguns diplomatas, cada país amigo se encarregaria de ajudar a convencer a parte com a qual tem mais influência a fazer concessões para a obtenção de uma saída pacífica, e provavelmente eleitoral, para a crise venezuelana.
Assim, por exemplo, Washington poderia convencer os manifestantes da oposição a reduzirem o tom de confronto e as exigências de que Chávez renuncie.
Chávez denunciou a atuação de “subversivos de extrema direita” em seu país. “Na Venezuela há um povo que batalha pacificamente e pela democracia e pela república”, disse. “Mas estamos enfrentando um movimento subversivo de extrema direita, um movimento fascista apoiado pelas elites econômicas. Há subversão da elite de comunicação, das emissoras de TV privadas, da maioria dos jornais. Sobretudo, dos mais poderosos.”
Chávez também comparou-se ao presidente chileno deposto em 1973, Salvador Allende. “Estão tentando fazer conosco o que fizeram com Allende”, disse.
“A diferença é que o Chile de 1973 não é a Venezuela de hoje. Além disso, temos uma grande força popular, temos como apoio para nosso povo as nossas Forças Armadas e, nas Forças Armadas venezuelanas, não temos um Pinochet”, acrescentou, referindo-se ao ditador chileno que derrubou Allende e governou o país com mão de ferro entre 1973 a 1989.