Brasília (AE) – O presidente nacional do PT, Tarso Genro, decidiu apertar o cerco contra o deputado José Dirceu (PT-SP) e o grupo político dele. Em conversas reservadas, Genro disse que não disputará a presidência do partido na eleição interna, marcada para 18 de setembro, se Dirceu continuar na chapa do Campo Majoritário – ala que controla 60% dos cargos na direção petista.
Na reunião marcada para amanhã (16), em Brasília, a Executiva Nacional do PT poderá encaminhar Dirceu e vários deputados ligados a ele para a Comissão de Ética.
"Cresce na base do partido a sensação de que as explicações dadas até agora por todos os petistas citados nessa crise são insuficientes", afirmou o secretário-geral do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP). A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios descobriu que os deputados João Paulo Cunha (SP), ex-presidente da Câmara, Professor Luizinho (SP), José Mentor (SP), Paulo Rocha (PA) e Josias Gomes (BA) aparecem na lista dos beneficiados por saques de contas do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, apontado como operador do "mensalão".
Da ala esquerda, o secretário de Formação Política do PT Joaquim Soriano, usará como argumento para pedir explicações aos companheiros uma afirmação feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no pronunciamento de sexta-feira (12). Depois de dizer que se sentia traído por "práticas inaceitáveis", Lula foi taxativo: "Se estivesse ao meu alcance, já teria identificado e punido, exemplarmente, os responsáveis por esta situação." A "deixa" de Lula foi combinada com Genro.
"Como Dirceu organizou o Campo Majoritário e coordenou a campanha do Lula, é muito pouco provável que ele agora possa dizer que tudo o que está acontecendo é problema do PT", disse Soriano. "Sem prejulgamento, achamos que todos os citados devem ter a filiação no PT suspensa enquanto são ouvidos na Comissão de Ética." Para Berzoini, os deputados deveriam pôr-se "à disposição" para evitar mais constrangimentos ao PT.
Na prática, Genro aliou-se à esquerda e ao Movimento PT, facção de centro, para "destronar" Dirceu. Nos bastidores, Genro conta com o apoio de Lula. O ex-chefe da Casa Civil, porém, continua negando ser o chefe do "mensalão", como acusou o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Dirceu enfrenta processo no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara por quebra de decoro parlamentar e pode ter o mandato cassado. "Não há prova concreta contra mim", insiste. "Tenho as mãos limpas."
A reunião de amanhã da executiva contará com a presença de prefeitos e governadores do PT e marcará mais um enfrentamento entre Genro e Dirceu. Ex-líder do governo na Câmara, Professor Luizinho promete "lutar até o fim" contra a hipótese de ser submetido à Comissão de Ética e suspenso do partido. "É inaceitável punir quem foi envolvido sem saber do que se tratava", comentou. "Não devo nada, não cometi nenhum crime." Luizinho alega que, orientado pelo ex-tesoureiro Delúbio Soares, seu assessor sacou R$ 20 mil para aplicar em campanhas de candidatos a vereador.
