Presidente-doutor

Luiz Inácio Lula da Silva, um dos candidatos preferidos do eleitorado brasileiro, é o único que não tem curso superior. Mas está respondendo com competência àqueles que o apontam como despreparado para governar o País. No recente debate na televisão, protegeu-se com suficientes informações sobre os problemas nacionais. Não pegou briga, diferentemente de José Serra e Ciro Gomes, que, usando e abusando de seus títulos de doutor, trocaram acusações e agora fazem réplicas e tréplicas por outros meios, sobre temas complexos e em linguagem que não é acessível ao povo. Como disse Lula dias atrás, Ciro e Serra são farinha do mesmo saco, do governo, aquele desgarrado e este ainda integrado, o suficiente para ver-se obrigado a defender a administração FHC.

A expressão farinha do mesmo saco soa como pejorativa. Mas que não sejam “saco da mesma farinha” na chatice da linguagem economês que chegam a usar em debates públicos, quando é sabido que a maioria dos brasileiros não tem condições de entendimento dessa linguagem tão rebuscada. Entendem, sim, é de como problemas tratados de forma tão complicada influem em suas vidas.

E, aí, Lula leva vantagem quando diz que só é doutor em povo. Deixemos claro que as vantagens e desvantagens que estamos apontando referem-se à campanha eleitoral; aos resultados que podem ser colhidos junto ao eleitorado, falando empostadamente o economês ou simploriamente “o que nóis entendêmo”.

Veja-se, por exemplo, o que aconteceu quando Ciro jactou-se de que no curto período em que foi ministro da Fazenda, o salário mínimo valia prometidos US$ 100. Serra chamou-o de mentiroso e, com números, procurou mostrar que valiam muito menos. Ciro veio com a tréplica, sustentando que a relação salário mínimo-dólar deve ser considerada levando em conta o poder aquisitivo da moeda norte-americana em cotejo com o mínimo vigente em período idêntico, sem esquecer a inflação no país de Tio Sam, a nossa e outras firulas que podem ser medidas pela econometria. Vem o Dieese, que é organismo técnico ligado aos sindicatos de trabalhadores, e também desmente Ciro, mostrando, por a mais b, que o mínimo do seu tempo era menor que o alardeado. Com tantos preciosismos e tão rebuscada linguagem, o que ganham os posudos doutores candidatos? Nada. Melhor dizendo, perdem para o ex-torneiro mecânico que nunca pisou numa universidade e considera isso desnecessário para ser presidente do Brasil. Ele não se aventura a entrar em detalhes incompreensíveis para o povo e talvez para ele mesmo. O povo, sobre o salário mínimo, sabe que é uma ninharia.

Sustentamos que um bom presidente precisa é ter uma boa equipe. E ser competente o suficiente para, através de simples apertar de botões, chamar o assessor adequado para a solução de cada problema. Os candidatos, num pleito em que os partidos políticos pouco ou nada significam porque se esfarelaram nas mais esdrúxulas coligações, precisam demonstrar que, se eleitos, terão capacidade de formar boas equipes e haverá governabilidade. Com ou sem títulos de doutor.

Bem assessorado por técnicos competentes, Lula pode ser apenas doutor em povo. Mais “apetrechados” em termos de estudos, Ciro e Serra precisam demonstrar que, além de sabidos, são capazes de formar equipes de doutores em povo. O que não podemos eleger é um presidente burro, cercado de sábios; ou um presidente sábio, cercado de burros.

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