Uma "quadra quase psicodélica". Assim o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio Mello, classificou ontem a época atualmente vivida pelo País, marcada por escândalos em série, ao falar sobre o grampeamento dos telefones de três integrantes da corte – um deles, o próprio Mello. Antes de participar de sessão comemorativa na antiga sede do Supremo Tribunal Federal (STF), no Rio, ele demonstrou não acreditar muito na possibilidade de a Polícia Federal localizar os responsáveis que, afirmou, nesses casos agem de forma dissimulada. Em tom irônico, afirmou temer que os grampeadores tenham "saído frustrados" com o conteúdo das conversas interceptadas, porque "não tem tempo de falar ao telefone".
"Isso aí (o grampo) preocupa, mas revela a quadra que estamos vivendo", declarou. "Uma quadra que eu diria quase que psicodélica, com escândalos aflorando dia a dia. Quando imaginamos que todos já surgiram, surge mais um, e ficamos perplexos." Uma varredura feita por uma empresa especializada constatou que três linhas telefônicas usadas por ministros do TSE foram ilegalmente interceptadas: uma de Mello, outra do ministro Cesar Peluso, no STF (tribunal que também integram) e um terceiro do ministro Marcelo Ribeiro, em seu gabinete no TSE – nesse último caso, conectado a um fax.
O ministro afirmou não saber a origem do grampo. "Mas a finalidade só pode ser única: ver se levanta alguma coisa para se pressionar. Agora, repito o que disse: se partiu da iniciativa privada, é condenável; se do Estado lato sensu, e não estou aqui a me referir a este ou aquele dirigente, merece a excomunhão maior." Mello repudiou também a hipótese de envolvimento de algum partido político no grampo. "Não posso imaginar, não posso supor, não posso raciocinar com o excepcional", declarou. "Envolvimento aí no caso de um partido político encerrará a excepcionalidade, a extravagância, a teratologia, o absurdo." Os presidentes do PSDB, Tasso Jereissati, e do PFL, Jorge Bornhausen, também condenaram o grampo telefônico.