O presidente da Comissão de Representantes Permanentes do Mercosul, Carlos Álvarez, afirmou que o bloco do Cone Sul "precisa ser revisado". Segundo Álvarez, que foi vice-presidente da Argentina entre 1999 e 2000, as assimetrias comerciais e econômicas existentes entre os diversos países do Mercosul deveriam ser reduzidas, de forma a "favorecer igualmente" cada um dos sócios do bloco. Álvarez fazia alusão às supostas assimetrias comerciais entre as economias do Brasil, que é maior do Mercosul; a da Argentina, de menor tamanho; e os denominados sócios "pequenos", isto é, o Uruguai e Paraguai.

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Ao longo dos últimos 10 dias, diversos integrantes do governo do presidente Tabaré Vázquez, do Uruguai, afirmaram que este está negociando um acordo de livre comércio com os Estados Unidos. Esse foi o caso do Ministro da Economia, Danilo Astori, um progressista light, encarado como potencial sucessor de Vázquez, que indicou que o governo uruguaio já estava em plenas negociações. O Ministro da Indústria, Jorge Lepra, completou: "e o acordo deve ser assinado antes do fim deste governo (2010)".

De quebra, o Ministro do Turismo do Uruguai, Héctor Lascano, declarou que o "tecido" do Mercosul "está machucado", e que para reestabelecer o bloco do Cone Sul seria preciso assumir "algumas mudanças". A saraivada de críticas contra o bloco foi completada pelo Ministro da Pecuária, Hugo Mujico, um ex-guerrilheiro tupamaro sem papas na língua.

A única voz divergente, até sexta-feira passada, era o chanceler Reynaldo Gargano, que afirmava não haver acordo algum com os EUA. No entanto, no fim da semana Gargano mudou o discurso e afirmou que o acordo era possível e que para assiná-lo seria necessário que os EUA abrissem o mercado americano para uma série de produtos fabricados no Uruguai, principalmente agropecuários. No entanto, em um exercício de diplomacia, Gargano disse que antes de fechar o acordo com os EUA, pedirá a autorização dos restantes sócios do Mercosul.

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As declarações causaram preocupação em Buenos Aires e em Brasília, já que se o Uruguai assinar um acordo dessa magnitude com os EUA, seria automaticamente expulso do Mercosul, o que implicaria em um duro golpe para o bloco.

Otimista, Álvarez sugeriu que esta crise tem seu lado positivo, já que levará os países-sócios a "revisarem" o funcionamento do Mercosul. Segundo ele, os problemas do bloco "devem solucionar-se com mais e melhor Mercosul".

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Mas analistas afirmam que o mal-estar pode estar em um ponto sem retorno, pois a insatisfação dos sócios pequenos entrou em uma escalada nos últimos dias.

A meados do ano passado, o vice-presidente Luis Castiglioni expressou que seu governo estava interessado em um acordo comercial com os EUA. Mas diante da saraivada de críticas emitidas pelos outros sócios do Mercosul, o governo paraguaio relativizou as declarações do vice.

Estimulados pela rebeldia uruguaia com o Brasil e a Argentina, neste fim de semana, em Assunção, no Paraguai, surgiram várias opiniões que recomendam que o governo do presidente Nicanor Duarte Frutos deveria seguir o exemplo do governo Vázquez e também iniciar negociações para um acordo de livre comércio com os EUA.

Diversos setores das classes empresarial e política paraguaia afirmam que o Brasil e a Argentina sempre ignoraram os pedidos e necessidades dos sócios "pequenos". O senador Carlos Balmelli, ex-vice-chanceler e ex-presidente do Congresso, em declarações à agência ANSA, disse que o Paraguai deve "procurar sua própria política externa; deve buscar mercados que lhe sejam convenientes e atender seus próprios interesses – A integração é válida quando beneficia todos os membros…mas hoje, claramente, só beneficia os sócios maiores". Segundo Balmelli, o Mercosul é um "espartilho" que o Brasil e a Argentina impõem ao Uruguai e Paraguai.