O presidente do Equador, Rafael Correa, propôs nesta quinta-feira (3) a criação de um banco de desenvolvimento e um fundo de estabilização para facilitar o crescimento econômico e social da América do Sul. A proposta se encontra em linha com a que já foi feita pelos presidentes Hugo Chávez, da Venezuela, e Néstor Kirchner, da Argentina. Correa busca avançar as emperradas negociações entre Argentina, Brasil, Bolívia, Equador, Paraguai e Venezuela sobre a criação do chamado Banco do Sul, postulado por Chávez como uma alternativa financeira aos organismos multilaterais, como o Banco Mundial (BIRD) ou o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Sem o aval do Brasil para a idéia de Chávez e Kirchner, a qual não definia se o banco seria uma entidade de desenvolvimento ou um fundo de estabilização macroeconômica para os sócios, Correa lançou a proposta com a versão dupla. "Se trata de criar uma nova arquitetura financeira", disse o presidente economista, completando que ambas as instituições vão ajudar na integração financeira da região.
A idéia de Correa é constituir um fundo que reúna as reservas monetárias dos seis países e que desenvolva as funções do Fundo Monetário Internacional (FMI), quando algum dos sócios registrar problemas de déficit. O FMI Latino de Correa integraria um banco para financiar projetos de desenvolvimento nos setores de infra-estrutura e luta contra pobreza. A proposta foi feita na abertura da reunião com os ministros de Economia dos seis países mencionados, em Quito, para discutir a criação do Banco do Sul.
Assim como seus colegas Kirchner e Chávez, em seu momento, Correa também não deu detalhes sobre como seriam as fontes de financiamento ou as regras de operação das duas entidades. A primeira vez que o Banco do Sul foi proposto foi por Chávez, no início do ano passado, e logo foi ratificado por Kirchner, em julho do mesmo ano, durante a cúpula de presidentes do Mercosul, em Córdoba, na Argentina.
Desde então, o Brasil vem recusando a proposta sob o argumento de que seria uma estrutura burocrática a mais na região. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, já explicou diversas vezes que antes de criar outra instituição é preciso saber o que fazer com as que já existem, como a Corporação Andina de Fomento (CAF) por exemplo. O assunto foi discutido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante sua visita a Kirchner, na última sexta-feira.
Hoje, em Nova York, o próprio presidente da CAF, Enrique Garcia, afirmou que "os prestamistas multilaterais da América Latina devem reinventar-se para manter sua relevância na região, ao mesmo tempo em que deveriam explorar alternativas para diminuir os riscos de investir". Durante um fórum com investidores e devedores, Garcia disse que, "se os multilaterais não se reinventam a si mesmos continuadamente, não teremos futuro".
O discurso de Garcia sustenta o debate estimulado pelo governo brasileiro de que é preciso rediscutir a função das instituições existentes antes de partir para um novo banco. "Talvez no passado fosse importante somente dar empréstimos. Mas agora, algumas vezes, é preciso jogar um papel em infra-estrutura, outras vezes no setor social", disse ele, completando que as instituições como Bird, BID e FMI "necessitam aportar valor agregado às suas linhas de crédito tradicionais".