Rio (AE) – O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Guido Mantega, afirmou hoje, no Rio, acreditar que "uma minoria" do PT esteja, efetivamente, envolvida nas denúncias de irregularidades financeiras apuradas pela CPI dos Correios e defende que o Congresso retome a pauta legislativa em paralelo às investigações. "O País não pode parar em função de uma crise ou de investigações. Realmente, tenho de reconhecer que o partido não foi muito feliz na mudança dessas práticas. O PT veio com boas intenções, queria mudar. Mas aí encontrou um status quo e uma correlação de forças instituídas e teve de criar maioria (no Congresso) e tudo o mais e acabou repetindo alguma coisa que era feita no passado", admitiu Mantega, assessor econômico do PT desde 1989.
O ex-ministro do Planejamento falou, publicamente, pela primeira vez, sobre as denúncias que têm como centro da discussão o PT e o governo Lula. Ele sustenta que, depois da crise, o saldo será positivo e não vê nenhuma possibilidade de que as investigações desemboquem num processo de discussão de impeachment.
"Não há o menor motivo para que se discuta essa questão. Mesmo porque o presidente não foi envolvido nessas questões. Hoje, depois de mais de um mês de investigações, não houve nenhum indício disso. Pelo contrário, ele (Lula) está determinando que as coisas sejam esclarecidas e que não se poupe nem os amigos nem os aliados." Para Mantega, apesar dos prejuízos que os escândalos têm trazido ao PT, a crise "cria massa crítica". "Há um acúmulo de forças para que as mudanças ocorram", afirma, referindo à reforma política e às mudanças na estrutura partidária. Quanto ao PT, ele acredita numa renovação e não no esfacelamento da legenda pós-CPI. "Alguns quadros já estão saindo (do PT) e acho que é uma minoria que estava envolvida nesse tipo de prática. A indicação do Tarso Genro é muito feliz porque ele reúne os predicados para fazer esta renovação do partido, um homem de postura moral, ética, conhecimento teórico, técnico, o (Ricardo) Berzoini, o (José) Pimentel, essa nova direção do partido tem todas as condições para curar as feridas e trazer o partido para uma nova dimensão" afirmou, evitando referir-se aos dirigentes afastados nas últimas semanas.
Mantega também não quis apoiar abertamente a proposta de um "acordão", defendida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP), mas declarou que é importante retomar a pauta legislativa além da CPI. "Não sei se (a solução) é um acordo. O bom senso leva a que não se paralise as atividades do Congresso. Tem que continuar fiscalizando, investigando, porém há que se retomar as atividades normais, aprovando leis, reformas, sem as quais o País não vai para frente. Tem de compatibilizar essas duas coisas. Não se pode ter um Legislativo só voltado para a CPI", afirmou.
Economia – A crise política ainda não afetou a economia, na opinião do presidente do BNDES. Ele manifestou, porém, preocupação com relação à manutenção dos investimentos e considera importante o declínio da taxa de juros para garantir a realização de novos projetos empresariais. "O que me preocupa é investimento, que puxa tudo isso. O que interessa para nós é que haja a continuidade do crescimento. Vamos garantir as condições para que tenha continuidade", disse.
Mantega está confiante na queda dos juros agora, a partir do segundo semestre e acha possível, também a revisão da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para baixo, em setembro.
"Já existem condições para reduzir (a Selic). Quando o Copom vai resolver baixar, não cabe a mim dar opinião. Se baixasse isso ajudaria muito a consolidar essa tendência de aumento de investimentos. Seria uma notícia boa. E a verdade é que todo o mercado já espera", afirmou.
