Brasília (AE) – O presidente do Banco BMG, Ricardo Guimarães, disse hoje, em depoimento a uma subcomissão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, que os empréstimos concedidos ao PT tinham uma espécie de "aval moral" do ex-presidente nacional do partido José Genoino e do ex-secretário nacional de Finanças e Planejamento Delúbio Soares. Guimarães confirmou também a intermediação realizada pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para que ele fosse recebido em audiência no Palácio do Planalto pelo ex-chefe da Casa Civil e deputado José Dirceu (PT-SP).
O encontro entre Dirceu e Guimarães ocorreu em 20 de fevereiro de 2003, apenas três dias depois de o PT receber o empréstimo de R$ 2,4 milhões do BMG. Cinco dias depois, uma outra coincidência: o BMG liberou um novo empréstimo, desta vez de R$ 12 milhões, para Valério. Esse dinheiro, segundo o empresário, teria sido usado para repassar a políticos e partidos aliados do governo Lula, mas o presidente do BMG disse desconhecer essa triangulação.
"Pelas nossas análises, o PT tinha e tem condições de pagar. O PT tinha o fundo partidário, mensalidade de militantes, o aval de um empresário rico (Valério) e o aval moral dos seus dirigentes", afirmou.
Segundo ele, o PT teria pago R$ 800 mil dos juros do empréstimo, e Valério outros R$ 350 mil, mas o saldo devedor estaria ainda em R$ 3,3 milhões. "Essa dívida venceu no final de agosto e está sendo executada judicialmente", disse Guimarães.
Para o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), responsável por conduzir o depoimento, a decisão do BMG de conceder empréstimos ao PT e a Valério, num total de R$ 34 milhões (ou 4% do patrimônio líquido do banco) é contraditória com o perfil de negócios do banco, que usa 90% do capital com crédito consignado e só se explica pelo interesse de abrir uma porta de acesso ao governo federal.
"O que fica muito claro é que houve uma aposta de intermediação do Marcos Valério num projeto de médio e longo prazo", diz o tucano. "Fica demonstrado que o Marcos Valério era um facilitador e buscava atender os interesses das duas partes (PT e BMG)."
O parlamentar também chama a atenção para o fato de que não há comprovação de que os empréstimos obtidos no BMG e no Banco Rural sejam de fato a fonte dos recursos canalizados a partidos e políticos aliados. O dinheiro dos empréstimos era pulverizado, passeava por várias contas. "Isso é típico de lavagem de dinheiro", opina Fruet.
Na avaliação dele, o propinoduto de Valério pode superar os R$ 55,8 milhões declarados por ele. Um dos indícios é dado pelo fato de que R$ 1,7 milhão foi repassado no início de 2003, antes das operações de empréstimo.