O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, afirma que o Brasil entrou em "um ciclo de fortalecimento da economia" e que "a crise política é um bom teste da política econômica adotada pelo País".
Meirelles participou, nesta segunda-feira, de uma reunião no Banco de Compensações Internacionais (BIS), na Basiléia, e ouviu de outros presidentes de BCs questões sobre a repercussão da crise política na economia. Meirelles ainda se defendeu em relação ao descobrimento recente de escândalos envolvendo envios de remessas de dinheiro por vários políticos e partidos ao exterior. "O BC não pode atuar como uma polícia", disse.
Para ele, "o embate entre a crise política e a economia mostrou que a economia está forte, menos vulnerável e ancorada em fundamentos sólidos". "Outros bancos centrais do mundo concordam com essa avaliação e que temos de continuar com essa política", afirmou Meirelles.
Às vésperas da reunião do Copom, o presidente do BC deixou o encontro se recusando a fazer comentários aos jornalistas sobre taxas de juros, inflação e os recentes números que mostram uma queda da produção industrial do País.
A saia-justa de Meirelles para falar sobre a situação no Brasil antes da reunião do Copom é tão pronunciada que o presidente do BC afirma que está em negociações com o BIS para que as reuniões bimestrais dos maiores bancos centrais do mundo não coincidam em 2006 com as semanas de reuniões do Copom. "Não posso falar sobre o cenário, senão estaria antecipando o Copom", disse.
Ainda assim, ele admite que o cenário de liquidez no mercado internacional está favorável ao Brasil. "Está claro que existe uma mudança estrutural hoje no mundo e há uma maior liquidez. Isso é bom, pois significa mercados mais benignos e que cobram prêmios de riscos menores", disse.
Tanto Meirelles como Jean-Claude Trichet, o porta-voz do G-10 (grupo dos maiores BCs do mundo), destacam que a maior liquidez está ocorrendo graças aos níveis recordes de poupança registrados na Ásia. Segundo eles, esses fatores podem não ser conjunturais.
Meirelles ainda defende a "persistência e continuidade" da atual política econômica. A "tentação" que deve ser evitada seria o governo intervir "de forma artificial no mercado visando obter ganhos específicos". "Isso leva a desequilíbrios e crises posteriores. A história do Brasil é cheia disso, com todos os planos de congelamento de preços e de depósitos" , alertou.
O presidente do BC poupa o Plano Real, que segundo ele foi "bem concebido". "Quando a política de âncora cambial deu sinais de que não era sustentável diante da globalização e dos fluxos cambiais, foi abandonada por diversos bancos centrais", disse.
Polícia
Diante dos recentes escândalos de corrupção que mostram um número significativo de suspeitos com transações para o exterior, Meirelles recusa qualquer responsabilidade do BC em controlar o dinheiro que sai do País. "O Banco Central controla e monitora as operações dentro do sistema e não tem como controlar operações no mercado ilegal. O BC controla o seguimento das normas. Se uma remessa é feita de acordo com as normas, é registrada no Banco Central. Isso é o que monitoramos" disse Meirelles.
Para ele, "o BC não pode ter uma papel de polícia ou de Ministério Público e tem de se ater às suas funções". "Cada um tem sua função, seja o Coaf ou a Polícia Federal. O Banco Central tem a sua, que é o envio legal de remessas ", completou.