Presidente diz que cassação de José Dirceu é inevitável

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, em entrevista gravada hoje para o programa ‘Roda Viva’, da ‘TV Cultura’, que a cassação do mandato do deputado José Dirceu (PT-SP), seu ex-ministro da Casa Civil, é inevitável, embora ressalvando que não há provas de que cometeu irregularidades. Lula, desta vez, condenou o uso de caixa 2: "O PT nunca poderia ter praticado coisas intoleráveis como caixa 2." Ele reafirmou que não sabia de nada e criticou o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares: "Não poderia imaginar que o PT e o Delúbio iriam terceirizar as finanças do partido."

Segundo relato dos entrevistadores, Lula disse estar seguro de que o ‘mensalão ‘não existiu. E afirmou que a denúncia de que o governo cubano teria enviado dinheiro para sua campanha à Presidência da República é uma "história inverossímil", porque Cuba "é muito miserável para poder emprestar dinheiro". Mas admitiu que o assunto tem de ser investigado.

Depois de ouvir uma saraivada de perguntas sobre as denúncias de corrupção, Lula elogiou o PT. Afirmou que seu partido "tem a arrancada do Tevez", puxando o tema futebol e se gabando da goleada que o Corinthians deu no Santos ontem (7). Segundo ele, teve sabor de vingança para a seqüência de derrotas que o grande time do Santos dos anos 1960 impunha ao Timão.

Indagado sobre a reeleição, passou a impressão de que pode não ser candidato. Lembrou que sempre foi contra a reeleição, assim como o PT, e disse que não mudou de posição. Explicou que "o segundo mandato nunca é melhor do que o primeiro" e citou o exemplo de seu amigo George W. Bush, dos Estados Unidos, que tem problemas no segundo mandato. Ele acha que seu primeiro mandato está sendo "muito bom" e desfiou uma seleção de números para comprovar a afirmação.

A uma pergunta se Dirceu teria sido o grande traidor, Lula negou e reafirmou que o PT cometeu falhas. Em relação ao assassinato do prefeito de Santo André Celso Daniel, em 2002, ele disse acreditar que foi um crime comum, sem conotação política. O presidente garantiu que o PT não teve nada a ver com o crime e comentou que o assunto sempre é ressuscitado em épocas eleitorais.

Lula insistiu que seu governo não obstruiu nenhuma CPI, o que, segundo ele, ocorreu em governos anteriores. Pediu cautela e investigação profunda sobre todas as denúncias contra o governo, especialmente a de que o Banco do Brasil teria financiado o suposto ‘mensalão’.

Filho

Indagado se não gostava de trabalhar em razão do grande número de viagens nacionais e internacionais que faz, Lula respondeu: "Nunca trabalhei tanto. Trabalha-se muito em viagens." Sobre as denúncias de que seu filho Fábio foi beneficiado com a venda de parte das ações de sua empresa para a Telemar, ele disse não ver problemas. "E por que não? Os filmes (produzidos pela empresa do filho) têm mais audiência na TV do que a MTV", argumentou. "Filho de presidente está proibido de fazer negócios?"

Ele ficou constrangido com questões como o surgimento de focos da febre aftosa em Mato Grosso do Sul. O governo foi acusado de não investir o suficiente na vigilância sanitária e não ter feito um trabalho de prevenção contra a doença.

Em um dos intervalos do programa, enquanto conversava com os entrevistadores, Lula elogiou Bush. Para ele, o presidente dos EUA é "um hom0em sem frescura". E a principal razão para formar este juízo foi que Bush aceitou tudo o que Lula lhe ofereceu no churrasco de ontem (6), na Granja do Torto.

O programa foi gravado na manhã de hoje, no Palácio do Planalto, e foi ao ar a partir das 22h30, pela TV Cultura de São Paulo. Foi a milésima edição do ‘Roda Viva’ e a primeira entrevista dada por Lula ao programa desde que tomou posse. O ex-presidente Fernando Henrique falou ao ‘Roda Viva’ quatro vezes ao longo do mandato. O apresentador Paulo Markun contou que o programa recebeu 1.500 e-mails com perguntas de telespectadores e algumas delas foram feitas ao presidente.

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