O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tentará convencer o colega dos Estados Unidos, George W. Bush, a suspender o boicote à venda de 24 aviões Supertucanos da Embraer para as Forças Armadas da Venezuela (FAV) – um negócio de US$ 230 milhões. Ontem (18), em seu encontro reservado com o presidente da Argentina, Néstor Kirchner, Lula comentou que não aceitaria esse tipo de intromissão de Washington. O relato foi feito por Kirchner em entrevista à imprensa de seu país, na manhã de hoje (19), quando também ressaltou que dará seu apoio ao Brasil e à Venezuela neste tema.
No final da tarde, o ministro das relações Exteriores, Celso Amorim, afirmou que ainda espera uma resposta da secretária americana de Estado, Condoleezza Rice, com quem tratou desse assunto na última sexta-feira. Mas desconversou sobre a possível iniciativa de Lula de telefonar a Bush. "Se não houver um sinal positivo (de Rice), há outras instâncias que ainda poderemos utilizar", comentou Amorim. "Dado o bom momento das relações do Brasil com os Estados Unidos, achamos que justifica-se uma revisão daquilo que nos foi indicado inicialmente (a obstrução do negócio)", completou.
O chanceler brasileiro ainda insistiu que a restrição dos Estados Unidos à operação de venda dos aviões "não se justifica" porque a Venezuela não está sob sanção internacional nem é acusada de patrocinar o terrorismo ou ações subversivas. Os aviões da Embraer, por sua vez, não são "agressivos" e poderiam ser usados no combate ao narcotráfico ou no treinamento de pilotos. Amorim lembrou que, anteriormente, não houve tais problemas nas operações de venda de jatos da Embraer para companhias americanas.
Hoje, em seu encontro com os presidentes Kirchner e Chávez, o próprio Lula apresentou uma proposta que poderá acentuar a resistência de Washington à venda dos Supertucanos à Venezuela. O presidente brasileiro propôs a integração das indústrias bélicas do Brasil, da Argentina e da Venezuela, como forma de potencializar a competitividade do setor e garantir o suprimento da região. Segundo o presidente venezuelano, Hugo Chávez, essa medida permitiria à América do Sul consolidar uma estratégia de defesa, com característica dissuasiva.
O tema transformou-se em um problema exclusivo do Brasil nas declarações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Logo depois de ter-se reunido com Kirchner e Lula, na Granja do Torto, Chávez deixou claro que caberá ao presidente brasileiro convencer Washington a mudar de posição sobre o tema. Caso contrário, comprará os aviões na "Rússia, na China, na Índia e em qualquer lugar". Mas o assunto também lhe rendeu munição para seu permanente tiroteio com os Estados Unidos. "Este é um exemplo do absurdo da política internacional dos Estados Unidos em relação ao Brasil. Porque atropela a liberdade econômica do Brasil", declarou.
