Pela primeira vez na história da Bolívia um indígena aymara, o ex-líder de plantadores de coca Evo Morales, chegou à Presidência da República. Morales obteve 51% dos votos na eleição do último domingo e deverá aumentar o círculo de presidentes com profunda aversão à hegemonia norte-americana, ao lado de Fidel Castro e Hugo Chávez.
A vitória do sindicalista boliviano aumenta o número de governantes sul-americanos com tendências ao socialismo democrático, ou para a esquerda propriamente dita. Luiz Inácio, Néstor Kirchner e Tabaré Vasquez, presidentes do Brasil, Argentina e Uruguai, embora sem demonstrar vocação para o radicalismo, não deixam de preocupar os operadores políticos do governo Bush.
Caso se confirme a vitória da socialista Michelle Bacheret, no segundo turno das eleições chilenas, o clube ficará ainda maior, ampliando a expectativa da eleição, no próximo ano, de novos políticos de esquerda na América Latina.
Morales, segundo observadores da política andina, é homem essencialmente pragmático e prometeu em campanha a nacionalização das reservas de gás e refinarias de petróleo, além de minorar os efeitos da campanha de erradicação da coca, cujas folhas são a principal matéria para a produção da cocaína, mas têm largo uso na medicina popular e alimentação de milhares de camponeses bolivianos.
O novo presidente não acenou, contudo, em nenhum momento da campanha, a disposição de abrir frentes de conflito com interesses multinacionais em seu país, embora tenha ressalvado que ao povo boliviano assiste o direito de dispor das riquezas nacionais em proveito próprio.
De origem indígena e forjado nas lutas do sindicalismo, um dos movimentos populares mais fortes da Bolívia, sobretudo entre os trabalhadores da mineração e extração de folhas de coca, Morales se elegeu deputado federal e, agora, presidente da República, numa votação histórica sem precedentes no país.
Espera-se que seu pragmatismo não o impulsione a aventuras irrefletidas de resultados nefastos para a maioria da população, já vitimada por acentuado nível de miséria.
Conhecedor profundo das necessidades de seu povo, o presidente constitucional da Bolívia sabe que não chegará a lugar algum pela força das bravatas e desatinos.