Entrar numa agência bancária com metralhadora ou uma pistola na mão está virando coisa do passado. Os ladrões hoje dão menos prejuízo aos bancos do que a clonagem de cartões bancários. Só no ano passado, os golpistas lucraram R$ 100 milhões, enquanto as perdas com roubos somaram menos de 20% desse total – excluídos os casos de roubos a bases de transportadoras de valores.

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Foi para combater essa nova realidade que a delegacia de Roubo a Banco do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) passou a investigar os Rauls, como são chamados os estelionatários que montam câmeras de vídeo e põem equipamentos em caixas eletrônicos para obter a senha dos clientes e os dados de seus cartões, a fim de cloná-los. A investigação da delegacia durou três meses e levou para a prisão um dos pioneiros nesse tipo de crime: Sidnei Caruso da Silva, de 34 anos, o Sapão.

Sapão estava em liberdade condicional depois de ser condenado a 6 anos de prisão pelo mesmo delito. Ele começou a clonar cartões no começo dos anos 1990, quando a prática ainda era desconhecida. Na época, ele pertencia ao bando de ladrões que resolveu mudar de ramo. "O que os atrai é aquilo que dá mais dinheiro com menos esforço", disse o delegado Ruy Ferraz Fontes, do Deic.

O grupo de Sapão morava na Cohab 2, na zona leste, e teve de se mudar de lá quando a clonagem lhes trouxe prosperidade. É que a riqueza despertou a atenção de outros bandidos, tornando o grupo alvo de seqüestros. Sapão foi morar com sua mulher na Penha. Acabou preso em Santos, mas recebeu o direito da liberdade condicional. Voltou então a reunir seu grupo e aplicar golpes.

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A ação era simples. O grupo fazia uma placa igual à do revestimento do caixa e substituía a original pela falsa. Nesta havia uma minúscula câmera digital com alta definição que filmava o cliente digitando a senha. O teclado também era trocado, além do leitor do cartão. Assim, os dados da tarja magnética do cartão eram capturados ao mesmo tempo que a senha.

"Ele fazia isso no Paraná", disse o delegado. Sapão voltava com os dados a São Paulo, onde seu grupo confeccionava os cartões. Para driblar as novas medidas de segurança dos bancos, os criminosos passaram a retirar folhas de cheques avulsas, em vez de usar os clones para transferências bancárias. Faziam compras com cheques verdadeiros contra os quais não havia nenhuma queixa.

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Foi rastreando um desses cheques que os policiais descobriram o rastro de Sapão, que acabou preso num motel em Guarulhos, em 2 de dezembro. No dia seguinte, outro integrante do grupo foi detido. Trata-se de Adriano Borges dos Santos, de 32 anos, o Milano, condenado a 4 anos e 9 meses de prisão pelo mesmo crime. Os dois foram indiciados sob acusação de formação de quadrilha.

Outros cinco homens participavam do grupo e foram identificados. Eles eram os responsáveis pela instalação dos aparelhos nos caixas e a contratação de laranjas para a lavagem do dinheiro dos golpes.