Sem filiação partidária ou pendores declarados por esta ou aquela ideologia, embora seu comportamento o aproxime do conservadorismo em termos da práxis política, o ministro da Agricultura e Abastecimento desde o primeiro dia do governo Lula, Roberto Rodrigues, resolveu ir para casa cuidar da mulher e dos netos, acompanhar de perto a produção de suas propriedades rurais, voltar a dar aulas ou simplesmente tirar umas merecidas férias.

continua após a publicidade

Absoluta surpresa para os que esperavam a nomeação de um ministro comprometido com reforma agrária e agricultura familiar, ao mesmo tempo que verberasse as pragas do Hades contra a agroquímica e, em particular, à liberação da produção e comercialização de produtos geneticamente modificados, os temíveis transgênicos, Roberto Rodrigues despontou como um elo importante da corrente entre os grandes produtores e operadores do agronegócio – setor onde se consagrou – e o presidente da República. Ao lado do ministro Luiz Fernando Furlan, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, expoente do poderoso conglomerado exportador de carnes e derivados, com a devida cobertura dos ministros José Dirceu e Antônio Palocci, Rodrigues caiu como luva na missão de avalista duma política de governo não suscetível a servir de picadeiro para a evolução de quadros petistas e afins, nas quixotescas gestas contra o império da tecnologia no campo.

Tanto que reforma agrária, agricultura familiar, assistência técnica e extensão rural foram desmembradas do Ministério da Agricultura e Abastecimento e absorvidas pela estrutura funcional do Ministério do Desenvolvimento Agrário, atendendo a uma condição prévia estabelecida pelo próprio Rodrigues antes de aceitar o cargo. Sua função, assim, seria atuar na remoção dos costumeiros empecilhos e firmar o entendimento cordial entre governo, grandes produtores e cooperativas – enfim, a nata do agronegócio – que desde 2000 aportava anualmente centenas de milhões de dólares à economia de um País desesperado em busca de divisas.

Contudo, o real começou a ser apreciado frente à moeda norte-americana, chegando a baixar ao perigoso nível de R$ 2,10, um flagelo para o setor de exportações agrícolas que quanto mais captava dólares no mercado externo mais sofria a punição da perda de competitividade. Causa primordial do pedido de exoneração do ministro Roberto Rodrigues, ao que se sabe sugerido pelo agronegócio, injuriado pelo fato de seu representante ter perdido prestígio junto ao governo que o enaltecera no tempo das vacas gordas.

continua após a publicidade

Segundo a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA), o PIB do agronegócio caiu 4,7% no ano passado, significando um corte equivalente a R$ 26 bilhões na renda da economia nacional, dos quais R$ 16,6 bilhões correspondem a prejuízos diretos dos produtores e R$ 9,66 bilhões para os setores intermediários. O impacto dessa queda sobre a economia foi a retração de 1,41% no crescimento do PIB nacional.

A saída do ministro Roberto Rodrigues e a nomeação de um quase interino, o secretário executivo do MAA, Luís Carlos Guedes, este sim ligado ao PT, não acena com mudanças sensíveis na política agrícola nesse resto de mandato, em primeiro lugar pela exigüidade do tempo e, em magnitude, porque os gargalos da agricultura dependem de soluções macroeconômicas afetas aos ministérios da Fazenda e Planejamento. Nada se soluciona enquanto o ministro da Agricultura for um pregoeiro solitário na imensidão do Planalto Central.

continua após a publicidade