Os preços administrados por contrato e monitorados fecharam o mês de janeiro com 2,26% de variação. O índice ficou bem acima do esperado, aponta o economista Cid Cordeiro, técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócios Econômicos do Paraná (Dieese-PR). A principal vilã foi a gasolina, que sofreu reajuste de 6,87%. “O aumento da água era o único esperado. E se tivesse havido apenas esse aumento, a variação seria de 0,9% e não 2,26%”, analisa. A água teve reajuste de 8,61%. Outros itens reajustados foram o gás de cozinha (4,45%), álcool (3,58%) e diesel (9%). Em janeiro de 2002, houve deflação de 1,4% nas tarifas públicas.
De acordo com Cid Cordeiro, o aumento da gasolina pesou não apenas na inflação de janeiro, como terá repercussão no índice de fevereiro. Com base na primeira semana deste mês, a expectativa é que fevereiro feche com variação de 5%. Com exceção da tarifa de ônibus em Curitiba -cujo reajuste ainda não foi confirmado, mas é quase certo o aumento de R$ 1,50 para R$ 1,70 ainda este mês -, outros itens que vão pesar são a gasolina (8,94% de aumento), álcool (15,08%), gás de cozinha – botijão de 45 kg – (1,78%) e telefone celular (reajuste de 6,45% a mensalidade, 6% o minuto da ligação para telefone fixo e 8,79% o minuto do aparelho pré-pago).
“O transporte, tanto coletivo como individual, vai ter grande impacto no índice de fevereiro”, aponta Cid. Com índice acima da inflação – a variação da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no Brasil em janeiro foi de 2,25%, enquanto o de preços monitorados foi de 2,26% -, Cid lembra que tarifas públicas vêm pressionando a inflação. O acumulado em 12 meses apresenta diferença ainda maior: 19,01% dos preços monitorados contra 14,47% do IPCA. “A expectativa é que pressione menos no período de maio e junho, quando são feitas as revisões de contratos das concessionárias.”
Queda da renda
Os preços administrados e monitorados pesam 30% no orçamento da família. Quando o Plano Real entrou em vigor, em 1994, o índice era de apenas 18%. “Como se trata de itens de difícil substituição ou mesmo redução de consumo, o brasileiro acaba tendo que diminuir os demais gastos”, aponta Cid. A alimentação, por exemplo, pesa cerca de 25% no orçamento familiar. Em Curitiba, o custo médio dos serviços públicos para uma família é de R$ 387,53. Com a confirmação do reajuste do transporte coletivo, em fevereiro o custo será de R$ 408,06.
Enquanto os gastos com tarifas públicas vêm aumentando, a renda da família brasileira vem caindo. Segundo pesquisa do Dieese em nível nacional, 2002 foi o quinto ano consecutivo em que a renda diminuiu. A queda foi de 7,7%, enquanto o acumulado no período, 35%.
Cenário de guerra
Uma possível guerra no Oriente Médio pode comprometer ainda mais os gastos com tarifas públicas, alerta o economista. O impacto maior será no preço do petróleo e consequentemente dos combustíveis. “A Petrobras não está repassando para o mercado interno as altas do petróleo. Apesar dos sucessivos aumentos, há uma defasagem de 15% a 19% nos preços dos combustíveis”, explica Cid.