Quando ainda não existia geladeira, mas a pesca já era farta no litoral do Paraná, surgia um prato que hoje é um dos mais famosos na culinária paranaense, ao lado do barreado, das ostras e siris e do pirão-do-mesmo.
O nome? Cambira. Originalmente, cambira é o nome de um cipó abundante no litoral, conhecido por sua flor de cor roxa. E foi por causa dele que assim também ficou o nome do prato.
Sem geladeira, os pescadores precisavam salgar e secar os peixes – principalmente a tainha – para poder conservá-los em épocas em que os grandes cardumes chegavam às praias. O pescado era amarrado com o cipó para secar ao sol ou então sobre o calor do fogão à lenha. Uma vez seco, o peixe ia para a panela de barro com água e ingredientes facilmente encontrados na região, entre eles, a banana e os temperos
verdes.
Já se passaram quase 300 anos, mas a tradição ainda continua forte no litoral do Paraná. Mesmo adaptada aos dias de hoje, a receita, dizem os entendidos no assunto, continua com o mesmo sabor que combina a força do
peixe e a suavidade da banana. “O gosto é absolutamente particular, exótico e instigante”, garante Fátima Aguiar, vice-presidente da Adetur Litoral, a associação de desenvolvimento turístico do litoral do Paraná, e proprietária do Restaurante Burghezia no balneário de Pontal do Sul. “O grande diferencial da cambira é sua absoluta simplicidade no cozimento, o que faz com que seja uma interessante surpresa.”
Segundo Fátima, com o advento da geladeira e a invasão de outras culturas, a cambira deixou de ser preparada por um longo período. Quase que esquecida. Mas hoje vem sendo resgatada e considerada como uma das melhores especiarias do litoral paranaense. “Normalmente se utiliza a
tainha no preparo”, explica. “Mas o prato também fica muito saboroso com cação, seco ou defumado, ambos muito saborosos.”
No restaurante, o prato para duas pessoas, preparado sob encomenda, custa R$ 40,00. Mas a receita é, como diz a própria Fátima, muito simples:
INGREDIENTES:
2 kg de peixe seco ou defumado; 6 bananas da terra; tomates bem maduros sem pele; cebola; 1 pimentão pequeno; 1 maço de alfavaca; 1 maço de coentro; 3 colheres de
sopa de extrato de tomate; pimenta a gosto; 2 colheres de sopa de óleo, farinha branca de mandioca para o pirão.
MODO DE PREPARO:
Lavar bem o peixe seco e deixar de molho, trocando a
água por várias vezes para tirar o excesso de sal. Preparar o molho colocando numa panela rasa o óleo, depois a cebola, o pimentão, o tomate, a alfavaca, o coentro, a pimenta e o extrato de tomate. Pronto o molho, juntar o peixe, tampar e deixar ferver por alguns minutos. As
bananas são colocadas em seguida, cobrindo o peixe. A panela deve ser tampada mais uma vez, para uma nova fervura. Para servir, é recomendado que as bananas sejam tiradas e servidas em outro recipiente. Para o
pirão, colocar numa panela parte do molho do peixe. Fazer um mingau com água fria e depois derramar aos poucos no molho fervendo, mexendo sempre. O prato completo é servido com arroz branco e saladas.