Os presidentes do PDT, Carlos Lupi, e do PPS, Roberto Freire, classificaram como "escárnio", de "insanidade conceitual" e de "quimera de bar" as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o "comodismo" da população que "é incapaz de levantar o traseiro" e mudar a conta para um banco que cobra juros menores. As críticas a Lula foram feitas em nota divulgada hoje pelos presidentes dos dois partidos. "Se muitos podem ver as declarações do presidente pelo prisma da ironia, condescendente, nós as entendemos como uma manifestação de escárnio ao povo brasileiro, pressionado cada vez mais pelos juros escorchantes, pela queda da renda familiar e pelo desemprego e indignado com os lucros exorbitantes dos banqueiros", diz a nota conjunta.
"Culpar o brasileiro pelos juros altos – e, mais gravemente, colocar a principal culpa sobre os ombros da classe média, pela larga utilização de cartões de crédito -, antes de insanidade conceitual, só pode ser analisada como quimera de mesa de bar", continua a nota. Os dirigentes dos dois partidos afirmam que o povo a que se refere Lula com culpa no cartório é "o sistema financeiro, aqueles que vivem da especulação, a equipe econômica do presidente, liderada por Antonio Palocci e a do Banco Central, dirigida por Henrique Meirelles".
A nota diz ainda que o "povo de Lula tem nome, contas gordas em banco e endereço certo" e que o "outro povo", ao qual os dois partidos se declaram solidários, "é anônimo e não aceita a atual política econômica do governo".
Os presidentes do PDT e do PPS citam na nota a declaração do vice-presidente, José Alencar, há cerca de dez dias de que a mesa de bar era o melhor lugar para se discutir a queda da taxas de juros. "Agora, é o próprio presidente da República, que, esquecendo-se do simbolismo do cargo que ocupa, reclama dos brasileiros por não levantarem o `traseiro da cadeira’ para lutar contra os juros, ficando só no xingamento, e em torno de rodadas de chope – claro, em um bar". Lula fez as declarações criticadas pelos dois presidentes partidários ontem durante sanção do projeto de lei que criou o Programa Nacional do Microcrédito Orientado.