Pouca paz ainda nos resta

Semana passada escrevi aqui neste espaço sobre meu pensamento quanto à utilidade e eficiência das armas de fogo. Ontem, todos nós ficamos sabendo que uma segunda vítima de bala perdida foi registrada apenas uma semana depois, aqui mesmo em Curitiba. Primeiro a garotinha Danielle da Silva Rebelo Campos, de 4 anos de idade, e agora a senhora Vanira Costa, de 65 anos, morta ontem no Bairro Alto nas mesmas circunstâncias. Ambas estavam dentro de suas casas, não representaram jamais qualquer perigo para a sociedade e assim mesmo foram vítimas fatais da violência indiscriminada que surge como novidade, nesta cidade ecológica, com vida de primeiro mundo.

Mal chegamos a comentar um assunto que é prioritário para a comunidade e já vemos os resultados estampados nas manchetes dos jornais. Estes dois casos ficarão impunes, certamente e os “bandidos” e “mocinhos” deste nosso “velho” novo oeste das telas americanas começa a ser vivido na carne por nós, nossos filhos.

Dois deputados, agora, recentemente, foram vítimas de ameaça e tentativa de seqüestro ou assalto, sei lá. Bastou isso para que fosse instalada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (ou pelo menos é isso que se noticia), convocando-se a comunidade para participar dos debates na Assembléia Legislativa.

Pesos e medidas diferentes. É quase como tapar o sol com a peneira. Quem tem poder, tem defesa, quem não tem, morre à míngua. Os dois deputados ganharam a mídia, a sociedade se escandaliza, faz passeata, bate o pé, pede por eles. As duas famílias que perderam filha, mãe e avó, certamente terão que chorar seus mortos e simplesmente se calar.

É revoltante esse tipo de procedimento. A falta de seriedade das nossas representações políticas é algo estarrecedor. Vale a lei que diz: “Aos amigos, os favores da lei, aos inimigos, os rigores da lei”. E assim é em quase todos os segmentos. Ninguém é capaz de defender os desvalidos, os pouco favorecidos pela sorte.

Quem vai nos ressarcir do rombo do Banestado? A lista de laranjas e paraguaios envolvidos na CC5 divulgada neste fim de semana? O rombo do Lalau, do Maluf, da Georgina do INSS e de tantos outros? São perguntas que ficam no ar. São resultados camuflados e que jamais espelham toda a realidade que vivemos. É assim porque os verdadeiros culpados são ilustres, são nomes intocáveis. Impressionante que outro dia ficou comprovado que os maiores crimes cometidos contra crianças, de estupros e violência sexual, envolvem diretamente figurões da sociedade, que também são acobertados pela omissão na divulgação de seus nomes até mesmo por interesses escusos.

Não é esta a sociedade que eu e você queremos para os nossos filhos. Não é armando a todos que estaremos garantindo nossa segurança. Precisamos armar isso sim o caráter das pessoas, prepará-las para o convívio harmônico, para as idéias claras. Mas armar para o bem, para a virtude, para a preservação da espécie.

Este interesse inconsciente pela autofagia, pela autodestruição parece que está calando fundo nessa gente. As pessoas cultuam o mal e esquecem o amor a si próprios. O que será desta sociedade que se canibaliza e cuja ânsia de poder e de propriedade sobrepuja a própria espécie, destrói a natureza, aniquila com o que tem de mais sagrado que é a própria vida?

Não precisamos esperar muito para encontrar a resposta. Não é o tempo que dirá. É o presente, é o hoje, que está nos revelando o curto espaço de tempo que temos para recuar nossos conceitos, sob pena de pisarmos imediatamente num terreno sem futuro, nem beco sem saída.

Osni Gomes

(osni@pron.com.br) é jornalista, editor em O Estado e escreve aos domingos neste espaço.

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