Porteiro avisa funcionários de demissão em jornal no Amazonas

Cerca de 50 funcionários do jornal Correio Amazonense, entre jornalistas e funcionários do departamento comercial e distribuição, foram surpreendidos hoje com o anúncio, feito pelo porteiro, que estavam todos demitidos e iriam, um a um, acompanhados por seguranças, entrar no prédio para esvaziar suas gavetas e assinar cartas de aviso prévio. De acordo com a diretora de redação Monica Santaella, ela e o diretor comercial do jornal também não sabiam que o jornal estaria fechado hoje ou os motivos para o fechamento de forma "tão abrupta".

"Como o jornal não estava circulando já há dois meses na segunda-feira, ontem não havia ninguém na redação. Mas uma pessoa me contou que um caminhão ontem estava levando todos os computadores. Vim checar e vi que isso realmente estava acontecendo, mas não consegui falar com o proprietário do jornal desde ontem", contou a diretora de redação. Há duas semanas, alegando enxugamento de despesas, segundo Monica, 20 jornalistas haviam sido demitidos por ordem do proprietário do jornal, Carlos Edson Guedes

O proprietário do jornal não foi encontrado pela reportagem. Desde 2002, contudo, o procurador Tiago Carneiro, do Ministério Público Federal no Amazonas, investiga se, entre os anos de 1996 e 2002, foi usado dinheiro de repasses federais para o governo do Amazonas pelo então governador Amazonino Mendes (PFL) para comprar a gráfica Novo Tempo, que editava o jornal Correio Amazonense. Carlos Guedes, segundo a denúncia em apuração pelo MPF, seria o testa-de-ferro de Amazonino

Uso eleitoral

Segundo o procurador-geral do MPF no Amazonas, Ageu Florêncio, a ação foi desmembrada em duas este ano: uma delas está no MPF e a outra seguiu para a Justiça Eleitoral, por suposto uso eleitoral do jornal Correio Amazonense durante a eleição deste ano, em prol da campanha de Amazonino, derrotado ao governo do Estado pelo governador reeleito Eduardo Braga (PMDB). Segundo a assessoria do TRE, a ação foi encaminhada ao Ministério Público Estadual, onde ainda não há promotor destacado para a investigação.

"O que é certo é que Amazonino Mendes, durante pouco mais de um ano que o Correio durou (foi fundado em junho de 2005), vinha para nossas reuniões de pauta, atuava como um chefe de redação. Só parou durante a eleição. O que nos fez acreditar que o jornal só tinha sido aberto por interesses políticos e provavelmente iria fechar se Amazonino perdesse a eleição, o que acabou acontecendo", contou uma editora do jornal que não quis se identificar. Amazonino, segundo funcionários, tinha também uma sala no prédio do jornal, esvaziada antes da campanha eleitoral. No expediente do jornal, até junho deste ano, o nome de Amazonino aparecia como membro do Conselho Editorial.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Jornalistas no Amazonas, César Wanderley, cada funcionário recebeu uma carta de demissão informando que, no dia 5 de dezembro, deveriam comparecer à sede do sindicato para assinarem a rescisão dos contratos de trabalho. "Vamos à Câmara Municipal de Manaus pedir apoio aos vereadores e ao Ministério do Trabalho. Além das rescisões, estamos orientando para os jornalistas e outros funcionários entrarem também com processo por danos morais", afirmou.

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