A regional paranaense da Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e Aids (RNP+C) denunciou hoje a falta de medicamentos anti-retrovirais para os portadores do vírus e até alguns indicados para doenças oportunistas. Segundo a rede, o problema começou há cerca de seis meses, agravando-se em novembro. "A medicação não é apenas remédio, é o nosso pão, é o que garante nossa vida", disse o representante da rede no Paraná, Paulo Sérgio de Oliveira.

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Na sexta-feira, Oliveira esteve no posto de saúde para pegar o Zidovudina 100mg. "Tive que pegar apenas a metade para não deixar outra pessoa sem o medicamento", afirmou. Outra portadora de HIV, de Paranaguá, teve uma experiência mais dolorosa. Como não estava se sentindo bem, ela pediu que a filha fosse buscar o medicamento. "Ela voltou chorando e falou apenas para o pai que não tinha". O próprio marido da portadora está há cinco meses sem o Zidovudina. "É um medicamento que ele utiliza diariamente", disse.

A preocupação é que a descontinuidade fortalece o vírus e o remédio passa a não fazer mais o efeito desejado. Segundo a RNP+C, no Paraná há notificação de cerca de 14 mil pessoas infectadas com o vírus HIV. As estimativas apontam que, para cada caso notificado, há outros três dos quais não se tem conhecimento.

O Programa DST/Aids, do Ministério da Saúde, por meio da assessoria de imprensa em Brasília, informou que realmente houve falta por alguns dias do composto Zidovudina/Lamivudina, mas que na sexta-feira já começaram a ser repostos nas regionais. O Zidovudina isoladamente tinha estoque para dois meses. No entanto, com a falta do composto também houve prejuízo para os que o utilizam. Como o medicamento é produzido no País, 100 mil cápsulas já estariam sendo enviadas para o Paraná. Segundo o ministério, o AZT teve o mesmo problema, mas como é produção nacional deve chegar aos locais de distribuição nos próximos dias.

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No caso do Atazanavir, o medicamento é importado. Ele já teria sido liberado, mas deve demorar uma semana para ser distribuído. "Está com problemas para chegar ao Brasil", disse a assessoria. No caso de outros medicamentos anti-retrovirais, o ministério afirma que eventual falta é problema pontual. A assessoria disse que a falta dos medicamentos é recente.

No entanto, o diretor do Centro de Medicamentos do Paraná (Cemepar), Júlio Merlin, afirmou que desde julho tem notificado o ministério sobre problemas de abastecimento de anti-retrovirais. "Não tínhamos reposição ou vinham em quantidade insuficiente", disse. Os medicamentos Valaciclovir, Nistatina e Cloxicilina, que combatem as doenças oportunistas, são de responsabilidade do Estado. Desses, Merlin afirmou que houve dificuldade de entrega do laboratório que produz o Nistatina. "Foi há algum tempo atrás, mas agora já está certo", acentuou. Ele pediu que qualquer falta localizada do medicamento seja comunicada imediatamente à secretaria. "Podem ficar tranqüilos, pois temos estoque para um bom tempo’, afirmou.

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