É preciso voltar no tempo para explicar as razões do apoio do PPS à candidatura do senador Roberto Requião (PMDB) neste segundo turno da eleição de governador do Paraná.
Quando assumimos o partido, há quatro anos, operamos uma completa reestruturação de seus quadros.
Assumimos com o desafio de viabilizar o PPS já para as eleições municipais do ano 2000. Para isso, estruturamos diretórios em pouco mais de 250 municípios – o que foi feito em tempo recorde – e promovemos um curso de capacitação política para nossos candidatos. A tarefa foi árdua, mas particularmente compensadora. O PPS paranaense saiu das eleições com 15 prefeitos e mais de 200 vereadores eleitos. Para quem partia do zero, foi um avanço notável, pois também lançava as bases para uma então promissora candidatura presidencial.
A necessidade de crescimento e consolidação impôs novo desafio: a candidatura ao governo do Estado, para a qual os companheiros acenavam, aqui e ali, em encontros e reuniões, por onde passávamos. A idéia da candidatura amadureceu e se tonificou em novembro do ano passado, no II Congresso Estadual do PPS, realizado em Curitiba.
Sabíamos das dificuldades terríveis que enfrentaríamos – curto tempo de televisão no horário eleitoral, escassez de recursos financeiros, sempre concentrados nos candidatos mais conhecidos da população, verticalização das alianças, absurdamente imposta pelo TSE, e pouco espaço na mídia. Se nossa ação se norteasse puramente pela razão, certamente teríamos refluído deste projeto. Mas a política, muitas vezes, também é feita com paixão -embora alguns se esmerem no frio calculismo dos ganhos e perdas que terão a cada gesto, a cada palavra, todos eles maquiados pelo marquetismo e orientados pelas tais pesquisas qualitativas.
A despeito do quadro de adversidades, fomos à convenção no dia 29 de junho para confirmar nossa candidatura, apoiada numa digna coligação com o Partido Verde, que indicou minha vice, Sigrid Andersen, motivo de muito orgulho para nossa aliança. Não vou me deter no processo eleitoral, ainda nítido na retina. Mas é impossível deixar de mencionar a avalanche de apoios recebidos tão logo tivemos a primeira e única oportunidade real de nos dirigir ao grande público: o debate da Globo. Ali, em meia dúzia de intervenções, buscando sempre debater idéias e rechaçando obstinadamente os ataques, as fofocas e as agressões, tivemos realmente a chance de nos mostrar por inteiro, ainda que sem tempo de detalhar as propostas de nosso plano de governo.
Ao longo da campanha -como no debate – estabelecemos diferenças que nos distinguiram dos demais candidatos. Tivemos divergências de várias naturezas com os adversários, incluindo Requião, e não seria lícito tentar mitigá-las agora. Não precisamos retirar as objeções que fizemos à candidatura Requião. Mas tínhamos a obrigação, o imperativo ético de comparar as duas alternativas que o eleitorado nos colocou para o segundo turno. Não poderíamos nos omitir.
Na eleição presidencial, o PPS fez sua opção inequívoca pela candidatura de Lula, por tudo que ela representa de oposição ao modelo econômico vigente.
Quanto à sucessão estadual, decidimos reunir o diretório estadual, bem como presidentes dos diretórios municipais, deputados e lideranças para tomar uma decisão sobre o segundo turno. A reunião, na quinta-feira à noite, dia 10, configurou um verdadeiro show de democracia partidária. Todos tiveram o direito de se manifestar livremente, defendendo o posicionamento que julgasse mais adequado. Mais de 90% dos cerca de cem companheiros que lá estavam se pronunciaram pelo apoio a Requião. E ao final, o plenário delegou à executiva estadual poderes para encaminhar o apoio ao senador. A direção do partido, na mesma noite, decidiu que o apoio seria essencialmente programático. E listou cinco pontos do plano de governo do PPS que foram submetidos a Requião e ao PMDB: 1) políticas públicas de saúde, educação e nutrição para a criança de zero a seis anos de idade; 2) restabelecimento da Lei Rubens Bueno (eleição direta para diretores de escolas da rede pública); 3) crédito e apoio técnico à micro-economia como fator de geração de empregos; 4) saneamento financeiro e administrativo do Estado, acompanhado de políticas consistentes para as carreiras, cargos e salários do funcionalismo; e 5) compromisso com a ética na campanha, sem renunciar ao direito legítimo de apontar as contradições da coligação adversária.
Selamos um acordo programático, sem nenhum ranço de fisiologismo. Saímos da campanha como nela entramos: limpos, com ética. Nossas contas -com despesas e doações -estão abertas ao público. Com Requião, prosseguimos nossa luta por um Paraná economicamente sustentado, ecologicamente equilibrado, socialmente justo e eticamente limpo.
Rubens Bueno
é deputado federal e presidente regional do PPS paranaense.