Meu filho Mateus não tinha cinco anos quando me saiu com esta: ?Por que todo mundo não é Deus? Como assim? Retruquei.?Daí ninguém morria?, completou.

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Conta-se que Adão e Eva foram expulsos do paraíso porque quiseram ser Deus quando provaram o fruto da árvore do conhecimento, onde frutificavam o bem e o mal. Desde então, dizem ser esse o maior pecado humano. Não sei o que realmente se passou na cabeça de Adão e Eva, se ambição ou apenas curiosidade diante da proibição divina, mas penso que a grande vantagem de ser Deus é a de não temer a morte, na medida em que nosso sonho mais antigo é ser justamente imortal (muito embora não tenhamos a noção do que seja exatamente isso, já que todos os paradigmas possíveis têm sempre começo, meio e fim).

Porém, reflito: será mesmo errado querer ser Deus? Se somos todos filhos do mesmo Pai, é natural e compreensível o desejo de sermos como Ele. Contudo, nosso Pai Celestial criou para nós dois males dois quais não padece: a falibilidade e a mortalidade.

Não seria melhor que fôssemos todos seres perfeitos e imortais? Não haveria sofrimentos, aflições ou injustiças. O leitor, atento, poderia objetar-me que todas essas mazelas são humanas e não divinas. Certíssimo, mas se deuses fôssemos não seríamos, obviamente, humanos e, portanto, não seríamos criaturas angustiadas, falíveis e mortais. Teríamos todos nossa perfeita cabeça muito bem resolvida.

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Então, não é mais verdadeiro ambicionar a imortalidade divina do que, mascarando essa mesma ambição, prostrar-se convenientemente de joelhos diante de Deus?

Djalma Filho é advogado

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djalmafilho@uol.com.br