A emissão de cheques sem fundos cresceu 27% em fevereiro, em relação ao mesmo mês do ano passado. A cada mil cheques emitidos, 20,1 voltaram. A informação é do Serasa.

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Há diversas outras comparações com períodos diferentes e a surpreendente, senão condescendente, conclusão de que é muito cheque voador, mas não demais. Os brasileiros, porque ganhamos pouco e nem sempre porque as coisas estão caras, como é a impressão geral, nos acostumamos a ver o calote como uma parte normal do mundo dos negócios. Também normais nos parecem os saques sobre créditos em cheques especiais e poucos levam em conta os juros nos pagamentos em prestações. Faz-se uma conta simplória: se a prestação parece caber no orçamento, compra-se. E muitas vezes não cabe nem com lubrificante, figura já utilizada por um escritor brasileiro famoso, para contar que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha que um rico entrar no reino dos céus.

Outro fator faz com que nossas contas nunca batam. Os serviços públicos e preços administrados estão quase sempre subindo e ninguém nos pede licença. Nem dá aviso prévio. Há também a inflação que antes do Plano Real cavalgava, mas agora anda a trote, empaca e às vezes até caminha como caranguejo.

Consolemo-nos, pois a dívida do governo em títulos ultrapassou, pela primeira vez, R$ 1 trilhão. Os débitos tiveram um crescimento de 2,6% no mês passado, em relação a janeiro. Motivo: o governo emitiu R$ 14,8 bilhões em novos títulos. O total de títulos negociados pelo governo dentro do País chegou a R$ 1,01 trilhão, segundo nota conjunta do Tesouro Nacional e Banco Central.

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A dívida total já estava bem acima, se contados os débitos externos. A estratégia traçada de pagar antecipadamente os débitos no exterior tem muita coisa a ver com isso. Para pagar o Fundo Monetário Internacional e o Clube de Paris, num total de US$ 18 bilhões, foi necessário emitir papéis no mercado doméstico para ter o dinheiro necessário para a compra de dólares.

Aí, entra mais uma vez o descontrole de contas de tantos brasileiros que não pagam prestações, ficam devendo para os bancos e emitem cheques sem fundos. Acontece que para levantar dinheiro em títulos da dívida pública, aqui e lá fora, o governo é obrigado a oferecer juros altíssimos. Se o governo é o maior tomador de dinheiro e paga alto, dentro daquela famosa e inelutável lei da oferta e da procura, o pouco que sobra para particulares e empresas nacionais passa a custar o olho da cara.

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Devemos lembrar ainda, ou esquecer, se isso for possível, que cada brasileiro é devedor de uma parcela da dívida interna e externa do governo. O dinheiro que o governo tem, não tem ou toma emprestado, pagando juros altíssimos, representa nosso patrimônio, nossa dureza ou nossos compromissos.

Uma conta simples, mas que funde a cabeça de qualquer brasileiro, é pegar as dívidas do governo, interna e externa, somar e dividir pelo número de brasileiros. Há gente neste País que já nasce devendo mais do que vai ganhar durante toda a sua vida.