Logo no princípio do filme Tropa de Elite 2 o professor Fraga afirma que quase toda a população brasileira estará dentro dos presídios em 2081. Cuida-se de uma futurologia bastante bizarra, de qualquer modo, não se pode ignorar que nossos números prisionais são preocupantes.

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Lembram, de certa forma, o delicioso conto de Machado de Assis chamado O Alienista (que se converteu em filme, com atuação fantástica de Marco Nanini: quase todo mundo da cidade foi internado!).

Vamos aos números

Conforme pesquisa realizada pelo IPC LFG (http://www.ipcluizflaviogomes.com.br), o Brasil fechou o ano de 2010 com meio milhão de presos. Ele ocupa o 4.º lugar no ranking mundial de população carcerária, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, que têm 2.297.400 presos, China, com 1.620.000 encarcerados e Rússia, com população carcerária de 838.500 (dados extraídos do site inglês King’s College London World Prison Brief (http://www.kcl.ac.uk/ depsta/ law/research/icps/worldbrief/wpb—stats.php?area=all&category=wb—poptotal).

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Considerando-se os últimos 20 anos (1990-2010), Brasil é o país com maior crescimento da população carcerária do mundo: 450% de aumento. Os Estados Unidos, no mesmo período, cresceram 77%, China, 31% e Rússia, 17%. Enquanto a população carcerária brasileira (de 1990 a 2010) mais que quintuplicou, o crescimento nos países citados nem sequer dobrou.

Projetando-se a movimentação carcerária do Brasil nos últimos cinco anos (2005-2010) e a dos EUA no biênio 2007-2009, descobre-se que o Brasil passará os EUA em 2034.

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Os Estados Unidos (campeão mundial hoje em números de encarcerados) estão retrocedendo (nos últimos cinco anos). Hoje eles contam com 2.297.400 presos. Em 2034 terão 2.289.401 detentos, enquanto que o Brasil, com taxa de crescimento de 6,8% ao ano passará da casa de meio milhão de presos para 2.415.905, se continuar com este desenfreado crescimento carcerário.

A projeção carcerária do Brasil foi calculada com base na média da taxa de crescimento da população carcerária no período de 2005 a 2010, ou seja, correspondente a 6,80% ao ano.

Já para os Estados Unidos, o cálculo foi realizado com base na taxa de redução bienal da população carcerária entre 2007 a 2009, uma vez que os EUA apresentaram neste biênio uma inversão na tendência de crescimento, o equivalente a -0,03% por biênio e aproximadamente -0,0139% por ano (veja a projeção da população carcerária Brasil x Estados Unidos completa no site do IPC LFG: http://www.ipcluizflaviogomes.com.br).

Ver a projeção futura do sistema carcerário brasileiro é algo estarrecedor. Mas pior ainda é constatar a brutal desigualdade entre os que estão presos e os que delinquem no nosso país.

Por força do princípio da ubiquidade todas as classes sociais delinquem. Mas dentro dos presídios só se encontram, basicamente, os das camadas étnicas discriminadas. A desigualdade de tratamento entre as classes superiores e inferiores certamente contribui para o cometimento de mais crimes.

Luiz Flávio Gomes é Doutor em Direito penal pela Universidade Complutense de Madri e Mestre em Direito Penal pela USP. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a 1998) e Advogado (1999 a 2001). Blog: www.blogdolfg.com.br. Twitter: http://twitter.com/ProfessorLFG.

Natália Macedo é pesquisadora do Instituto de Pesquisa e Cultura Luiz Flávio Gomes.