As determinações do presidente Evo Morales para o setor de hidrocarbonetos, considerado patrimônio inalienável do povo boliviano, sem discutir o mérito da questão, passaram a representar um ponto altamente vulnerável nos planos de expansão da Petrobras, a maior estatal brasileira e uma das mais importantes do mundo no campo energético.
As investidas do presidente do país vizinho sobre o patrimônio de empresas que atuam no setor de gás natural e petróleo em território boliviano, no caso particular da Petrobras, são de tal monta que a direção da empresa não descarta a alternativa de encerrar as atividades e partir para a busca de reparações judiciais nos tribunais incumbidos de dirimir pendências do comércio internacional.
Os dois complexos de refino da Petrobras em Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra passaram a constituir dolorosa enxaqueca para os dirigentes da estatal brasileira, tendo em vista a obrigatoriedade, sem retorno, de rever as intenções de contar com o gás boliviano em nossa matriz energética.
Analistas de política internacional, desde os primeiros surtos do fervor nacionalista demonstrado por Morales, anteviam a probabilidade, hoje comprovada, da deterioração das relações comerciais entre ambos os países, com inevitáveis riscos de instabilidade no equilíbrio entre oferta e demanda do combustível transportado pelo gasoduto Brasil-Bolívia.
Em se tratando de um campo melindroso como a produção e refino de petróleo e exploração de gás natural, a estatal brasileira obviamente estabeleceu uma ampla carteira de investimentos em outras regiões do mundo, como o Golfo do México e a costa oeste da África, sem falar de parcerias estratégicas com a Venezuela. Em relação a esse país, contudo, é indispensável manter-se em alerta ininterrupto.
A Petrobras pretende investir US$ 87,1 bilhões até 2011 a fim de atingir, quatro anos depois, a ambiciosa marca diária de 4,556 milhões de barris de petróleo e gás. A meta da estatal é continuar avançando na produção própria de gás natural, com resultados mensuráveis já no final da década. Só assim ações temerárias como as de Morales serão neutralizadas.