As crises econômicas do agronegócio são recorrentes no País antes mesmo da adoção do neologismo – vertido do inglês – que engloba o complexo da atividade agrícola do plantio à colheita e, sobretudo, da comercialização das safras. A reclamação da hora, diante da qual o governo adota a postura de um avestruz, além da péssima infra-estrutura, dos altos juros e da carga tributária, reside numa política cambial que reduziu a renda da agricultura de R$ 37,6 bilhões em 2004 para R$ 27,1 bilhões em 2005 e R$ 22 bilhões em 2006. As perdas têm ligação direta com a apreciação excessiva do real frente ao dólar norte-americano, uma teimosia do setor econômico do governo, considerada irresponsável pelos analistas.
Os produtores organizaram um movimento nacional denominado Grito do Ipiranga e, depois de bloquearem estradas e ferrovias nas regiões produtoras mais importantes do centro-oeste e do sudeste, sem ouvir qualquer resposta animadora, convocaram uma romaria a Brasília a fim de fazer o protesto chegar à Praça dos Três Poderes. O encontro das delegações que partiram de vários pontos ocorreu ontem na capital da República. O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, convidou também os governadores do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Tocantins, Goiás, São Paulo, Minas Gerais, Maranhão, Bahia e Distrito Federal, para uma conversa aberta com o presidente Lula e o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues.
O governador Roberto Requião gravou uma mensagem de apoio aos produtores rurais do Paraná, repetida inúmeras vezes na programação da TV Educativa, solidarizando-se com o movimento e reiterando providências urgentes da parte do governo federal. Para estar em Brasília o governador precisou contornar problemas de agenda, porquanto a lei do salário mínimo regional seria sancionada na tarde de ontem, no plenário da Assembléia Legislativa.
Também os setores de autopeças, calçados, móveis, máquinas e veículos engrossam o caldo do descontentamento, cada qual apontando prejuízos incalculáveis em face da retração das vendas externas, pela disparidade dos preços pagos por seus produtos. As montadoras de automóveis também começaram a falar alto, entre elas a Volkswagen do Paraná, cuja intenção é demitir milhares de empregados nos próximos anos. O setor de veículos automotivos, entre 2003 e 2004, teve o incremento de 40% nas exportações, percentual que caiu para 34% em 2005, não devendo exceder 3% no atual exercício.
O governo federal até ontem não mostrava a menor intenção de fazer mais que os paliativos de rotina para enfrentar o grave problema de um prejuízo superior a R$ 1,1 bilhão na produção de soja, cuja receita foi de R$ 22,4 bilhões para um custo de R$ 23,5 bilhões. Segundo se apurou entre os produtores mato-grossenses, a área plantada em 2007 sofrerá redução de 30% a 40%.
O ministro Roberto Rodrigues pretende sair do governo mesmo com a reeleição de Lula, diante da coleção de fracassos de sua gestão. A única voz solidária tem sido a do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que sabidamente não mantém boas relações com Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, fonte das decisões draconianas da política econômica. Enquanto isso, a produção agropecuária e industrial definha ao ponto do estrangulamento.
