Ponto de ebulição

Questões técnicas versus questões políticas estão na raiz do contencioso entre países industrializados e emergentes, patamar em que despontam Brasil e Índia como os mais credenciados propugnadores da abertura dos mercados para produtos agrícolas. A formulação foi feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao anunciar sua viagem a Lisboa, na terça-feira, onde participará da primeira reunião da cúpula União Européia-Brasil.

Um dos temas obrigatórios da agenda será o fracasso do encontro da Rodada Doha, realizado na Alemanha, na qual chanceleres do Brasil e Índia criticaram acerbamente a dubiedade dos países ricos em propor o corte dos subsídios agrícolas internos, em troca da diminuição das tarifas de importação de seus produtos industriais.

Daí a apreciação taxativa de Lula sobre o ponto de ebulição de suas recônditas intenções sobre comércio internacional: ?Se eles não abrirem a agricultura, não tem mais conversa?, declarou o presidente, ao insistir no clássico conceito de interesses multilaterais, segundo o qual os pratos da balança de comércio mundial não podem continuar oscilando apenas em favor dos ricos, como ocorreu no século passado.

Lula deixou claro que o Brasil não tenciona trabalhar com os ricos seguindo os parâmetros do século passado, tendo em vista que as maiores economias do globo ?precisam compreender que os países emergentes precisam ter a oportunidade de disputar com eles?.

E essa disputa, segundo Lula, é perfeitamente plausível no mercado agrícola, setor em que o Brasil é tão competitivo quanto os Estados Unidos e a União Européia. A reunião de Potsdam pela retomada das discussões da Organização Mundial do Comércio (OMC) fracassou porque os ricos não distenderam a exigência da abertura dos mercados emergentes para bens industriais.

Em resumo, Lula disse que os emergentes teriam de baixar as tarifas de importação de produtos industriais em troca de quinquilharias. A alusão aos moldes do século passado – nesse contexto – passa a ter valor ponderável no posicionamento firme, mas não xenófobo que o presidente brasileiro defenderá em Lisboa.

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