Políticos da oposição também receberam dinheiro de Marcos Valério

Brasília (AE) – Um pacote de documentos em poder do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, sobre operações bancárias dos últimos sete anos, mostra que muitos outros políticos foram beneficiados por contribuições remetidas por sua agência de publicidade SMPB – e desta vez aparecem políticos de vários outros partidos, além do PT. Um desses depósitos, por exemplo, foi para o deputado mineiro Custódio de Mattos (PSDB), ex-líder do PSDB na Câmara, que foi agraciado com dois pagamentos – um de R$ 20 mil e outro de R$ 5 mil, que lhe chegaram pelo Banco Rural. Um segundo recibo, no valor de R$ 100 mil, foi para a conta de um deputado do PP mineiro, Romel Anízio. Um terceiro teve como destinatário outro deputado do PP, Gil Pereira (MG), que ficou com R$ 25 mil. Nenhum desses políticos declarou, em suas prestações de contas à justiça eleitoral, os valores recebidos de Valério.

As informações estão em reportagem da revista Época que circulou hoje nas bancas. Segundo a revista, as transferências aconteceram durante 13 dias, entre 26 de setembro e 8 de outubro de 1998, exatamente na linha de chegada das eleições parlamentares daquele ano. Feitas as contas, as contribuições – todas partidas da agência SMPB – totalizaram R$ 10,6 milhões. Desse valor, o PT teria recebido R$ 850 mil, em quatro pagamentos. Quem ficou com a maior cota, no entanto, foi o PFL, que recebeu R$ 1,3 milhão dividido entre vários candidatos. Ao PSDB couberam, prossegue a denúncia, R$ 647 mil.

A revelação sobre essas contribuições coincide com a declaração feita por Marcos Valério, em conversa com o procurador-geral da República, de que ele teria mais a dizer sobre os milhões de saíram de suas empresas para políticos e que havia muito mais gente envolvida além de petistas.

No caso do tucano Custódio de Mattos, como afirma na reportagem o jornalista Andrei Meireles, as duas transferências foram feitas no dia 28 de setembro. Mattos admitiu ao repórter que recebeu dinheiro da SMPB mas diz que não conhece Marcos Valério. "Na época", defendeu-se ele, "a SMPB era uma empresa com idoneidade indiscutível e bem relacionada com os políticos de Minas."

Ajuda coletiva – Um pacote diferente, no valor somado de R$ 95 mil, foi dirigido à Assembléia Legislativa mineira e distribuída a cinco pessoas desconhecidas. Ao lado do nome de cada uma, no entanto, aparece, anotado à mão, o nome de um político que seria o real beneficiado. Um desses nomes é o de Elma Barbosa de Araújo, irmã do deputado tucano Eduardo Barbosa. Para ela foram passados R$ 10 mil numa conta do Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge). Procurados pela Época, a irmã de Eduardo garante que jamais teve negócios com a SMPB e seu irmão explicou que o dinheiro foi para Elma porque ela era a tesoureira de campanha.

As operações são absolutamente iguais às que descreveu, no início de julho, o ex-tesoureiro da agência do Banco Rural em Brasília, José Francisco Rego. No depoimento que fez à Polícia Federal, na capital da República, Rego contou que o dinheiro era transferido de Belo Horizonte para lá, e os valores eram tirados diretamente no caixa. A agência recebia de Valério um fax com os nomes dos destinatários. Era assim que ele fazia em 1998.

A papelama em poder da CPI dos Correios, no Congresso, inclui muitas planilhas com as doações de campanha partidas da SMPB desde 98. Não há ainda documentos que provem as irregularidades, mas a investigação trabalha com dezenas de operações de uma mesma fonte e dirigida sempre a políticos que precisavam de dinheiro para suas campanhas. Segundo a reportagem o que mais preocupa Valério é a situação de sua mulher, Renilda. Como as empresas estão em seu nome, ela pode ser chamada pela CPI para explicar crimes fiscais e lavagem de dinheiro. Para poupá-la é que ele se dispôs a contar mais do que sabe.

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