O governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), pretende retomar as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), marca do ex-governador Sérgio Cabral (2007-2014) na área da segurança pública.

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Trata-se de mais um movimento de inflexão política do governador fluminense, que foi eleito com o discurso de confronto. Chegou a defender, em entrevista ao Estado, que policiais dessem tiros “na cabecinha” de criminosos armados. Também chamou traficantes de narcoterroristas e celebrou, como quem comemora um gol, o abate, por atirador de elite, de um homem que havia sequestrado um ônibus na Ponte Rio-Niterói. Era um padeiro sem antecedentes criminais.

Nos últimos meses, contudo, Witzel tem moderado a retórica, tentando se contrapor ao ex-aliado Jair Bolsonaro, possível concorrente na eleição de 2022.

O governo diz que as novas UPPs e a reestruturação das que ainda existem – todas em comunidades carentes – devem focar ações sociais, além do policiamento ostensivo que lhe é característico. Lançadas às vésperas de 2009, quando o Rio era anunciado como sede da Olimpíada e o Cristo Redentor “decolava” na capa da revista The Economist, as UPPs foram a medida mais marcante e midiática de Cabral. Hoje, ele está preso, condenado a 267 anos de prisão por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, principalmente.

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As UPPs entraram em crise em 2013, depois que o pedreiro Amarildo de Souza desapareceu após ser preso por policiais da unidade da Rocinha, em São Conrado, zona sul. “Cadê o Amarildo” virou palavra de ordem das manifestações de rua no Rio, naquele ano. Desde então, o projeto minguou, e criminosos voltaram a circular ostensivamente armados em comunidades, como no Complexo do Alemão. Com o tempo, algumas UPPs foram fechadas, por inviabilidade e inutilidade.

No governo Witzel, as três primeiras novas unidades serão implantadas em Angra dos Reis, talvez ainda em janeiro. Conhecida por belas praias e ilhas, a cidade tem índices preocupantes de violência e tornou-se objeto de disputa entre quadrilhas.

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Além de novas unidades, estão previstas reestruturações em locais como a Rocinha, maior favela do País com cerca de 70 mil moradores. As novidades passam por instalar câmeras nos uniformes dos agentes, de modo que as imagens sejam transmitidas para uma sala de comando da polícia. Outras UPPs estratégicas, como a da Cidade de Deus, em Jacarepaguá, na zona oeste, também podem receber investimentos.

A proposta de voltar a investir nas UPPs surge em ano de eleições municipais. Eleito na onda conservadora de 2018, com um discurso assumidamente de direita, Witzel tem como desafio criar capilaridade para o seu partido, o PSC, que não elegeu nenhum prefeito no Estado do Rio em 2016.

O projeto para este ano é lançar o máximo possível de candidaturas próprias nos municípios – não só para tentar conquistar essas prefeituras, como também para eleger vereadores em um contexto em que as coligações estão proibidas para o cargo proporcional. Há, atualmente, uma ideia de fundir a legenda ao PSL, ex-partido de Bolsonaro. A legenda detém a maior fatia do Fundo Partidário e daria uma estrutura inédita para Witzel e suas ambições.

Prefeitura

Na disputa pela prefeitura do Rio, ainda não se sabe qual será a postura do governador. Publicamente, ele costuma afirmar que defende candidatura própria do PSC, mas não cita nomes, e se esquiva quando é perguntado sobre um já ventilado apoio ao ex-prefeito Eduardo Paes (DEM).

“Tenho que respeitar a decisão do meu partido”, disse, em um encontro com a imprensa em dezembro do ano passado. Hoje na base do governo, o DEM tem como figura de maior relevância no âmbito nacional o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, cuja interlocução com o governador é boa.

‘Carioquismo’ de paulista

Paulista de Jundiaí, o governador do Rio, Wilson Witzel, tem tentado incorporar um “jeito carioca de ser”. A cerca de um mês do carnaval, por exemplo, Witzel abraçou – simbólica e financeiramente – as escolas de samba, em movimento contrário aos do prefeito Marcelo Crivella e do presidente Jair Bolsonaro. Rivais do governador, o prefeito e o presidente são avessos à folia. Eleito na esteira da onda conservadora e bolsonarista, Witzel busca, agora, se desvencilhar de Bolsonaro.

A aparência sisuda de ex-juiz e de quem já defendeu o “abatimento” de criminosos vai de encontro a esse aceno ao “carioquismo”. Em relação ao carnaval, o governador articulou para o Estado assumir o controle da festa na Sapucaí – até então vinculada à prefeitura – e anunciou a novidade, com euforia, antes mesmo da confirmação oficial.

Witzel tem dado ideias para o formato dos desfiles, como a “distribuição” da festa em mais de um fim de semana. Aproveitando a abertura, escolas de samba o procuram para buscar recursos.

A situação financeira para este ano é considerada crítica pelas agremiações. Sob Crivella, os desfiles agonizavam, já que são mais dependentes de dinheiro público do que o carnaval de rua, majoritariamente “gerenciado” por empresas privadas.

Além do carnaval, o governador tenta, desde o início do mandato, associar sua imagem ao futebol – em especial ao Flamengo, que vive uma boa fase e é o time mais popular do País.

Durante a campanha eleitoral de 2018, Witzel se declarou corintiano e disse que tinha como ídolo o ex-jogador Sócrates, que marcou o grupo conhecido como Democracia Corintiana no início da década de 1980.

Agora, além de já ter aparecido no gramado do Maracanã e de usar com frequência o camarote do governo no estádio – inclusive levando vários convidados políticos -, Witzel protagonizou episódios curiosos, como a atitude de se ajoelhar diante de Gabigol, ídolo da conquista da Libertadores pelo clube, após o título. O artilheiro ignorou o governador, e a cena viralizou.

No dia seguinte à conquista, quando o elenco rubro-negro desfilou pela Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio, em meio a uma multidão de torcedores, Witzel voltou a aparecer. Em diversos momentos, fez questão de ir para a frente do trio elétrico, onde estavam apenas jogadores e comissão técnica. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.