A expectativa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de concluir a votação da abertura do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff até as 22h de quarta-feira, 11, foi frustrada e a sessão seguie madrugada adentro, com votos no painel eletrônico apenas na manhã desta quinta-feira.
Até a meia e noite e meia de quarta-feira, o placar era de 34 senadores haviam declarado na tribuna a intenção de votar a favor do impeachment, 10 se manifestaram contrários e 1 não definiu o voto.
Com esta configuração tudo se encaminhava para o afastamento da presidente Dilma Roussef da função. Ao todo, 71 parlamentares estavam inscritos para falar. Renan tentou acelerar o processo com um acordo, mas a sugestão de um requerimento para abreviar os discursos foi rejeitada nas negociações e não chegou nem a ser votada.
Em plenário, o líder do DEM na Casa, Ronaldo Caiado (GO), disse que Teori deixou claro na sua decisão que cabe ao Senado o papel de tribunal de “instância definitiva” e o processo corre dentro da lei. “É o cala-boca definitivo”, afirmou o oposicionista. Para o líder do governo no Senado, Humberto Costa (PT-PE), a posição era esperada porque os ministros do STF já haviam dito que o assunto era do Congresso. A aposta de aliados de Dilma agora é anular o pedido na análise do mérito.
Conjunto da obra
Durante a sessão, os senadores que se manifestaram favoráveis à abertura do processo contra Dilma citaram muito mais que as irregularidades que embasam o pedido de afastamento. Não só as pedaladas fiscais e a assinatura de decretos orçamentários em 2015, mas “o conjunto da obra” serviu de argumento na tribuna.
Houve quem evocasse o abuso no emprego de recursos do BNDES, o superfaturamento na compra da refinaria de Pasadena (EUA), o enfraquecimento político do governo, o retrocesso na economia, a pressão das ruas e a corrupção generalizada. Magno Malta (PR-ES) mencionou o “conjunto da obra” e comparou o país a um paciente febril.
O presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), disse que a marca dos governos populistas é que sempre agem com irresponsabilidade e quando fracassam usam o discurso de “nós e eles”. Derrotado por Dilma em 2014, ele elogiou o parecer do aliado Antonio Anastasia (PSDB-MG), favorável ao afastamento. “Foi a irresponsabilidade da presidente da República e do governo que está fazendo brasileiros voltarem às classes D e E”, criticou.
O impeachment teve o apoio de senadores que integraram o primeiro escalão dos governos petistas desde 2003.
Os aliados do passado fizeram discursos vacinados contra questionamentos de incoerência ideológica. Um deles foi Cristovam Buarque (PPS-DF), demitido por Lula em 2004. “Por incrível que pareça, voto pela admissibilidade. Não fui eu que mudei, foi a esquerda que envelheceu. A esquerda que está há 13 anos no poder, o que demonstra um desapego à democracia, manipulando, cooptando, criando narrativas em vez de análises, com a preferência pelo assistencialismo em vez de uma preferência pela transformação social.”
O senador Roberto Requião (PR), peemedebista, a favor da manutenção de Dilma, disse que o impeachment é uma “monumental asneira”. E criticou o vice. “Meu amigo Michel Temer assume suportado por série de ideias da ‘Ponte para o Futuro’ e reveladas em entrevistas por auxiliares que são as da utopia neoliberal com corte de gastos, a mesma proposta que fracassou em outros Países”, afirmou.