A escolha dos candidatos a vice-presidente, definida em convenções partidárias nos últimos dias, serviu para reforçar o posicionamento da maior parte dos candidatos, agregou pouco eleitoralmente e, de maneira geral, não abriu diálogo com setores da sociedade em que os presidenciáveis já não tinham influência. A avaliação é de analistas políticos ouvidos pela reportagem na manhã desta segunda-feira, 6, um dia após a composição para todas as chapas à Presidência nas eleições 2018 estar definida.

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Para o professor e cientista político da FGV Marco Antônio Teixeira, a escolha dos vices, que se deu no apagar das luzes, foi a “possível” e trouxe pouco em termos eleitorais. “De uma maneira geral, não agregou muito. Não há um vice que te leve a um lugar onde você não chega, que crie uma conversa com quem os candidatos já não conversavam”, avalia.

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O professor Marco Aurélio Nogueira, coordenador do Núcleo de Estudos e Análises Internacionais da Unesp, afirma que, como em qualquer pleito, a escolha dos vices busca uma ampliação dos apoios. “Todos tiveram essa preocupação, que não foi possível em vários casos por uma espécie de esgotamento das possibilidades”, afirma.

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Para os dois analistas, esse é o caso das candidaturas do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL), que definiu o general da reserva do Exército Hamilton Mourão (PRTB), de Marina Silva (Rede), que escolheu Eduardo Jorge (PV), de Henrique Meirelles (MDB), que trouxe o ex-governador do Rio Grande do Sul Germano Rigotto (MDB) e do senador Alvaro Dias (Podemos), que optou por Paulo Rabello de Castro (PSC).

Em menor escala, seria também o caso de Geraldo Alckmin (PSDB), que já tem relevância no Sul, de onde vem a senadora Ana Amélia (PP-RS). “Acredito que faltou estratégia eleitoral. O ponto fraco de Alckmin é o Nordeste, onde está 27% do eleitorado brasileiro e ele vai mal. Ele não tem nenhum apoio expressivo na região e foi buscar isso em outro lugar, onde já há um competidor expressivo (o presidenciável Alvaro Dias, do Podemos)”, avalia.

Para Teixeira, a estratégia é mais de dividir o eleitorado do que de somar. “A Ana Amélia é alguém que consolida a relação com o Centrão (Solidariedade, DEM, PP, PR e PRB), traz o tempo que precisava, mas eleitoralmente o resultado me parece duvidoso. O ponto positivo é ser mulher”, avalia.

No caso de Kátia Abreu e Ciro Gomes, ambos do PDT, o cientista político acredita que Ciro “quebrou pontes” em suas tentativas de alianças com o Centrão e com o PSB e, isolado politicamente, optou pela solução caseira. “Do ponto de vista de recursos como tempo de TV e fundo eleitoral, não soma, apesar da notoriedade da Kátia. Além disso, é um perfil parecido, com língua afiada”, diz. E, mesmo como uma representante do agronegócio, seu diálogo com o setor piorou depois do apoio a Dilma Rousseff (durante o período do impeachment).

Na avaliação de Cláudio Couto, professor de Gestão e Políticas Públicas da FGV-SP, o caso mais dramático é o de Bolsonaro, por ser um candidato que enfrenta dificuldades para dialogar com o público feminino. Para ele, a escolha de Mourão, presidente do Clube Militar, pode afastar segmentos que poderiam ser atraídos com um discurso mais flexível. “Essa decisão é um estreitamento do ponto de vista do perfil. É um vice que é ‘mais do mesmo’ e essa militarização da chapa é muito negativa. Não agregou nada e ainda pode tirar”, afirma Couto.

Sobre a candidatura de Marina Silva, Cláudio Couto acredita que, dadas as fragilidades de tempo eleitoral, estrutura e dinheiro da Rede, a aliança com Eduardo Jorge foi positiva. “Por mínimo que seja, ampliar o tempo de TV é importante. Dá um alívio para a campanha”, afirma.

No caso de Henrique Meirelles e Germano Rigotto, Couto acredita que a aliança não traz “nada”. Para ele, um efeito prático da candidatura emedebista é desviar o foco de Alckmin como sendo o candidato do governo. “Mas é uma candidatura que não apresentou capacidade de decolar e essa escolha não ajuda”, diz.

O caso do PT

Apesar de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estar potencialmente impedido de concorrer nas eleições após a condenação em segunda instância, o partido tem insistido em sua candidatura. O partido anunciou o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad como “vice temporário” e Manuela D’Ávila (PCdoB) como eventual vice de Haddad, se Lula não puder ser candidato.

“Haddad e Manuela dão um ar de certa renovação por terem a imagem de jovens, não serem envolvidos em casos de corrupção. O obstáculo maior seria torná-los conhecidos nacionalmente”, afirma Cláudio Couto.

O professor Marco Aurélio Nogueira, da Unesp, avalia que essa foi uma das escolhas que menos trouxe ampliação do eleitorado. “Haddad vem de dentro do partido e Manuela sempre girou em torno do PT”, diz. Para ele, a decisão serviu para o partido colocar em prática a estratégia política do partido sem Lula.