Sob calor intenso, o vice-governador Luiz Fernando Pezão, pré-candidato do PMDB ao governo do Rio, chegou ao bairro de Santa Luzia, no município de São Gonçalo, no último dia 22. Cumpria mais uma etapa da agenda oficial que, em pouco menos de seis meses, registra 128 visitas a 75 cidades do interior e da região metropolitana. A tática em Santa Luzia era arriscada: inaugurar apenas 5 de 28 ruas que receberão pavimentação e drenagem até março.
A alegria dos moradores com o asfalto em suas portas contrasta com a revolta dos vizinhos das ruas de terra ainda esburacadas e com esgoto a céu aberto.
“Inauguração tem que ser uma vez só, quando o bairro todo ficar pronto. Vai inaugurar de pedaço em pedaço? Onde eu moro está uma vergonha”, reclamava a dona de casa Helena Castro Antunes, de 52 anos, moradora da Rua São Veríssimo. De improviso, no discurso, Pezão anunciou a inclusão da rua de Helena e outras duas mais na relação das vias beneficiadas.
Às vésperas de assumir o posto do governador Sérgio Cabral e a pouco mais de oito meses da eleição, Pezão luta contra o tempo para ganhar visibilidade. Neste esforço, vale inaugurar obra em andamento e assinar dezenas de protocolos de intenções com prefeituras. A razão é clara: Pezão é conhecido por apenas 40% da população e tem 5% de intenção de voto, segundo pesquisas do fim do ano passado.
O vice tenta superar essas barreiras investindo na imagem de tocador de obras. Foi personagem central dos programas do PMDB do Rio em 2013, até que o bordão “Quem é Pezão” teve de ser retirado da TV e das redes sociais, por determinação da Justiça Eleitoral.
“É uma inauguração simples, simbólica. São as primeiras de mais de 2.900 ruas que o programa Bairro Novo vai urbanizar”, justificou Pezão em discurso para poucos moradores de Santa Luzia. Na mesma noite, fez outra duas inaugurações de obras em andamento. Em Vista Alegre, entregou 5 de 15 ruas que serão pavimentadas. Em Laranjal, apenas 4 de 37 vias em obras. “Vou voltar no dia 15 de fevereiro com o governador Sérgio Cabral para inaugurar mais três ruas e no dia 27 de fevereiro para entregar tudo”, prometeu Pezão em Vista Alegre. Só naquele bairro, serão três inaugurações, sem contar a visita para lançamento das obras. Parece agenda de prefeito, mas é do futuro governador que tentará a reeleição.
“Sou o coordenador de infraestrutura. Eu tenho que tomar conta, tenho que estar em campo tirando as coisas do papel. Cada quatro, cinco ruas que ficam prontas é uma conquista. Quase todo mês tenho 300 ruas pra entregar, fora as obras de abastecimento de água, as escolas”, contabiliza o vice. “Não tem nada de eleição nisso, são promessas que fizemos e estamos cumprindo”, reage.
A maratona do vice está ancorada em dois programas principais, o Bairro Novo, que investirá R$ 1,3 bilhão nos municípios da região metropolitana, e o Somando Forças, com orçamento de R$ 900 milhões para as cidades do interior. Desde agosto, Pezão assinou pelo menos 50 “protocolos de intenções do programa Somando Forças” com as prefeituras.
Sem fronteiras
Pezão não procura apenas os territórios amigos. Em São Gonçalo, segundo maior colégio eleitoral do Estado, onde esteve nove vezes entre 9 de outubro e 24 de janeiro, está sempre acompanhado do prefeito Neilton Mulim, do PR, partido do ex-governador e pré-candidato ao governo Anthony Garotinho. Mulim é conciliador: “A relação da prefeitura com o governo do Estado é de grandeza, somos gratos pelas ações nesta cidade”, discursa o correligionário de Garotinho. Até em Campos, cidade do ex-governador, Pezão esteve, ao lado de Cabral, para inaugurar uma Região Integrada de Segurança Pública (Risp).
O vice promete completar os 92 municípios fluminenses em fevereiro. Já foi a 8 das 11 cidades administradas pelo PT, que rompeu a aliança de sete anos com o PMDB e lançou o senador Lindbergh Farias candidato ao Palácio Guanabara. O prefeito petista de Niterói, Rodrigo Neves, ex-secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, é um importante aliado de Pezão na região metropolitana e tentou, sem sucesso, evitar a candidatura de Lindbergh.
“Em toda eleição, o candidato começa com apenas um voto, o dele próprio. E vai conquistando o segundo, o terceiro. Pezão sempre visitou os municípios e vai continuar a visitar, não importa o tamanho. Além disso, ele tem ótima relação com prefeitos de todos os partidos”, diz o presidente do PMDB-RJ e futuro coordenador da campanha de Pezão, Jorge Picciani.
Entre os pequenos municípios visitados por Pezão para lançar o Somando Forças está São José de Ubá (noroeste fluminense), que fez parte do pacote de seis cidades percorridas pelo vice no dia 9 de dezembro de 2013. Sem cerimônia, os aliados levaram camisas do Botafogo com o número 15, do PMDB, e o nome Pezão. O vice postou a foto no Twitter.
“Recebi um presente, tirei fotos com os que me presentearam. Sou botafoguense e 15 foi o nosso número durante duas eleições (2006 e 2010, anos de eleição e reeleição da chapa Cabral-Pezão). Não tem nada além disso”, despista o pré-candidato.
Pelos ares
Pezão fez 68 viagens de helicóptero para cumprir agenda oficial na Grande Rio e no interior, entre o início de agosto e a última sexta-feira – uma viagem a cada dois dias e meio. Só no dia 14 de janeiro, esteve em oito municípios. No dia 26 de setembro do ano passado, Cabral, Pezão e comitiva, que ocupavam dois helicópteros, aproveitaram a agenda de inaugurações na Região dos Lagos e foram a Cabo Frio para a festa de filiação do ex-prefeito Marquinhos Mendes ao PMDB. O governo do Estado e o PMDB-RJ informam que o partido ressarciu o Estado pelo trajeto.
Segundo o PMDB, foram pagos R$ 3.200 pela viagem de dois helicópteros, com duração de dez minutos, entre Búzios e Cabo Frio, cálculo feito com base no valor de mercado de R$ 9.600 por hora de voo.